São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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Fazendeiros pedem intervenção federal

GEORGE ALONSO
ENVIADO ESPECIAL AO PONTAL DO PARANAPANEMA

Os fazendeiros do Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo) atacaram ontem a ação lenta do governo na questão da terra e sugeriram, em nota oficial, que a situação na região evolui rumo a "um estado de anarquia, que só poderá ser debelado por uma intervenção federal".
Segundo eles, a ameaça de matança de bois e de novas invasões (fora do perímetro de terras consideradas devolutas e destináveis à reforma agrária) demonstra que os governos estadual e federal correm atrás do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
"O governo está andando de bicicleta em uma pista de Fórmula 1", disse Célio Romero de Souza, vice-presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente, que reúne os fazendeiros da região.
Os ruralistas acreditam, segundo Romero, que "as autoridades estão sendo puxadas pelo nariz" pelo MST. A ação do Estado, afirmou ele, está acontecendo sempre a reboque dos conflitos de terra.
A nota do sindicato dos fazendeiros, assinada pelo presidente da entidade, Sigeyuki Ishii, afirma que "causa espanto a arrogância e a prepotência de certos líderes que, a todo momento, lançam ultimatos, impõem condições, fazem ameaças, como se fossem os verdadeiros detentores do poder".
A direção dos sindicato dos fazendeiros espera mais agilidade do governo para solucionar a questão. "Se o governo pensa que vai fazer a reforma agrária com blá-blá-blá, o máximo que vai conseguir é um monte de ações na Justiça. É preciso destinar dinheiro e fazer logo as indenizações", disse Romero.
Os fazendeiros do Pontal do Paranapanema ocupam há mais de 30 anos terras públicas e agora, para entregá-las, exigem o pagamento das benfeitorias.

Conflitos
A cada dia que passa, aumenta o risco de conflitos armados, já que o MST -segundo os ruralistas- passou a invadir fazendas (como a São Domingos) fora do 11º Perímetro, 66 mil hectares onde seriam feitos os assentamentos.
"Temos pedido calma, que não haja revide. Mas assim como José Rainha (líder do MST) não representa todos os sem-terra, algum fazendeiro pode resolver atirar contra invasores", disse Romero.
José Rainha rebateu a nota dos fazendeiros. "Essa é a verdadeira cara do latifúndio. Eles sempre foram o braço armado do campo. Eles querem frear a reforma agrária com a ajuda da polícia".
Os sem-terra estão cadastrando nos bairros pobres das cidades da região desempregados que desejam voltar à terra. O MST pretende reunir cerca mil pessoas.
Seriam feitas novas invasões com os "novos sem-terra", mais as 600 famílias que não serão atendidas em assentamentos definitivos na primeira etapa do programa do governo Mário Covas (PSDB) e do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Até ontem não chegaram aos acampamentos da região as cestas básicas prometidas pelo governo federal há dois meses, em reunião com o MST em Brasília.
Os sem-terra ameaçam invadir pastos e matar 200 bois a partir de amanhã, para alimentar 1.023 famílias, que vivem hoje acampadas em barracos de plástico.

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