São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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Godard opõe arte e cultura ao criar seu auto-retrato

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Godard opõe arte e cultura em auto-retrato
É um auto-retrato não autobiográfico, diz Godard a horas tantas de "JLG por JLG". Maneira de dizer que ninguém deve se iludir com o título: Godard continua incômodo e nada disposto a se explicar.
No mais, vem ao caso saber se Jean-Luc Godard tem de se explicar. Seus filmes são claros, tão claros que temos dificuldade em acreditar nisso. Seu aspecto documental é tão forte que se pode, através deles, compor uma história ano a ano das modas, dos mitos e pensamento de 1959 para cá.
Em "JLG", o que domina o conjunto é a preocupação com o poderio norte-americano, sua dominação sobre o mundo após a queda do Muro de Berlim.
Isso é jogado ao longo do filme, em que Godard, entre outras, questiona a construção do sentido no cinema e opõe a cultura (a regra) à arte (a exceção, o negativo).
A tirania do compreensível -do previamente compreensível, do que não deixa dúvidas- sobre a dúvida é uma imagem recorrente, assim como a idéia de desolação. Esta, desde os anos 80, se impõe pelo contraste com a primeira fase do cineasta -anos 60-, quando o cinema suscitava esperanças como arte nova e inexplorada.
Agora, a regra esmaga a exceção. O velho "enfant terrible" faz, agora, seu auto-retrato de inverno.

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