São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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Apoio às exportações

ANDRÉ LAHÓZ

O governo está estudando um projeto de apoio às exportações. Ainda não se sabe exatamente que medidas estão sendo analisadas -o mais provável é que haja uma ampliação nos financiamentos às vendas externas.
Independentemente das medidas a serem efetivamente adotadas e dos setores a serem beneficiados, a orientação geral é correta.
As vendas externas brasileiras vêm crescendo ao longo do ano de 95, batendo recordes sucessivos.
Até agosto (excluído, portanto, o dado que deve sair hoje), as exportações dessazonalizadas projetavam um total para o ano de US$ 44,8 bilhões.
Por outro lado, o dado de agosto, isoladamente, projetava um total de US$ 46,3 bilhões -mostrando que, na ponta, as exportações estão crescendo.
No lado das importações, ocorre o inverso: os primeiros oito meses de 1995 indicavam total de US$ 53,4 bilhões para o ano, mas o dado de agosto projetava apenas US$ 45 bilhões.
Segundo esses dados, pode-se imaginar um total de exportações para o ano de US$ 47 bilhões, aproximadamente US$ 3 bilhões abaixo do total de importações.
Esses números não indicam que as exportações devam parar de crescer. Ao contrário, a existência de uma folga no setor externo faz parte das necessidades do governo.
Após a crise mexicana, qualquer déficit comercial pode criar problemas sérios para os países em estabilização.
Os agentes, "escaldados" após o fiasco mexicano de dezembro de 94, tendem a enxergar uma iminente desvalorização cambial quando o setor externo passa a apresentar problemas.
Se a maioria dos agentes tiver a mesma percepção (foi o que ocorreu no México), o boato vira fato, a menos que o Banco Central tenha "bala" suficiente para evitar a desvalorização.
Há sérias dúvidas sobre o nível atual da taxa de câmbio. É verdade que o governo deve anunciar hoje um superávit comercial, segundo o ministro Malan, de US$ 500 milhões. Mas o próprio governo diz estar preparado para a volta dos déficits comerciais.
O atual desempenho comercial positivo, embora benéfico no sentido de interromper uma sequência de vários meses deficitários, deve-se muito mais a um ajuste de estoques na economia do que a um nível de câmbio equilibrado.
Como o governo está querendo forçar a desindexação da economia, é importante que apresente bons resultados nos preços.
Por resultados positivos entende-se número significativamente menor do que os 35% apresentados no primeiro ano do Real.
Fecha-se assim o dilema do governo: precisa de superávits comerciais, mas não pode reajustar muito o câmbio.
A redução do chamado "custo Brasil" poderia ajudar, e muito, a aumentar a competitividade dos produtos brasileiros sem que a taxa de câmbio seja alterada.
Mas é pouco provável que, a curto prazo, haja avanço considerável por esse lado. O "custo Brasil" deve cair daqui para a frente, mas em ritmo muito lento.
Assim, resta ao governo adotar medidas que contribuam para o equilíbrio comercial e que não pressionem os preços. Ou seja, incentivar as exportações.
Caberia ainda a possibilidade de restrição de importações. Mas o recente episódio das cotas junto à OMC mostra que esse tipo de medida tem custos altos para o país e sucesso duvidoso.

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