São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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Gravação acusa suborno de juízes em jogos finais da Série A-2 do Paulista

JUCA KFOURI

JUCA KFOURI; MARCELO DAMATO; RODRIGO BERTOLOTTO
COLUNISTA DA FOLHA

MARCELO DAMATO e RODRIGO BERTOLOTTO
O ex-juiz de futebol Wilson Roberto Catani afirma, em fita gravada obtida pela Folha, que "ajudou" o Botafogo a conseguir resultados positivos por meio de um esquema de arbitragem na disputa da Série A-2 do Campeonato Paulista de Futebol deste ano.
O time de Ribeirão Preto conseguiu a última vaga para o acesso à Série A-1 -a divisão principal do futebol paulista- em 1996.
As declarações de Catani foram dadas no final de setembro ao repórter Alexandre Reis, que à época trabalhava para a rádio CMN (Companhia Mogiana de Notícias), de Ribeirão Preto (319 km ao norte de São Paulo).
Segundo Reis, houve vários telefonemas, durante seis dias. Todas as conversas foram gravadas.
Reis declarou ter chegado a Catani após receber a informação de que o ex-juiz estaria tentando -sem sucesso- receber do presidente do Botafogo, Laerte Alves, dinheiro referente à "venda" de resultados em alguns jogos.
Para conseguir a reportagem, Reis se apresentou com o nome fictício de Luis Augusto Soares, chefe do comitê eleitoral do grupo de oposição a Laerte Alves.
"Soares" (Reis) disse que estaria interessado em comprar os cheques. Assim, conseguiu conversar com o ex-juiz. Catani confirmou à Folha que a voz na fita é dele, mas disse que "brincou" com Reis. "Percebi logo que era uma armação. Inventei tudo."
Na fita, Catani diz que Laerte Alves, o diretor do Botafogo Nelson Giacomini e o juiz de futebol Marcos Fábio Spironelli participaram do esquema de corrupção.
Giacomini não foi encontrado pela Folha. Os demais negam as acusações (leia textos abaixo).
Na fita, Catani citou Spironelli como um dos juízes "do esquema". Contou sua participação em dois jogos, XV de Jaú 2 x 2 Botafogo e Botafogo 2 x 0 Catanduva.
Nesse último jogo, o Catanduva teve dois jogadores expulsos no primeiro tempo. O time reclamou dos dois gols do Botafogo. No primeiro, disseram que o pênalti que gerou o gol não existiu. No segundo, pediram impedimento.
Catani não é mais juiz de futebol. Na fita, diz que deixou o apito em 1993. Mas, segundo o Departamento de Árbitros da FPF, ele foi afastado, com outros juízes, em 1988.
Na fita, o ex-juiz implicou também o árbitro Dionísio Roberto Domingos, mas de outro modo.
Disse que lhe ofereceu participação no "esquema", no jogo contra o São José, o último do terceiro turno da Série A-2.
Conta que o acordo só não saiu porque Domingos teria pedido além da cota estabelecida para cada jogo -R$ 2.000,00 para o juiz e R$ 1.000,00 para o intermediário (Catani). Domingos nega a acusação (leia texto abaixo).
Na fita, Catani disse possuir três cheques de Alves, todos no valor de R$ 2.500,00. Dois já teriam sido devolvidos, por falta de fundos. O terceiro também estaria descoberto.
Ele explica ainda que a dívida de Alves seria de R$ 18 mil (valor referente a seis jogos). Catani afirma que trabalhou para Alves em outros jogos, que foram pagos.
À Folha, Catani repetiu várias vezes que não havia nenhuma declaração verdadeira na fita. Mas, na conversa com Reis, ele fornece um número de conta do Banco Safra e um número de CPF (Cadastro de Pessoas Física) como sendo de Alves.
A Folha apurou que os números estão corretos. A chance de Catani ter acertado esses números por acaso é de dez elevado à potência 18. Isso significa que, se ele arriscasse um palpite por segundo, acertaria um palpite em cada 31.688.087.814 anos.
O caso provocou a demissão de Reis e do diretor de esportes da rádio CMN, Luiz Carlos Briza. Eles decidiram sair depois que a rádio vetou a divulgação da fita.
A rádio CMN pertence a Eletro Bonini, 83, proprietário da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto). Quem cuida de seus negócios é a filha, Elmara Bonini, e o marido, Valdemar Corauci Sobrinho, deputado federal pelo PFL.
O diretor da rádio é Wilson Toni, conselheiro do Botafogo e ex-deputado estadual pelo PTB.
Segundo Reis e Briza, houve uma reunião sábado à noite na casa de Corauci Sobrinho em que os diretores comunicaram a eles o veto à veiculação da fita.
Corauci nega a existência da reunião e diz que a decisão foi apenas de Toni, superior hierárquico de Briza e Reis.

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