São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995 |
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Retrospectiva no Whitney Museum traz a NY de Florine Stettheimer
CELSO FIORAVANTE
Despercebida pois, simultaneamente, o mesmo Whitney realizou -até o último domingo, um andar acima- uma grande mostra de Edward Hopper (1882-1967), o mais importante pintor figurativo norte-americano deste século. Agora, sem Hopper, Nova York pode olhar com mais atenção para a pintora que tão bem retratou a cidade, seus personagens e seu modo de vida no início do século. Com telas que datam de 1915 a 1942, figurinos e desenhos, a mostra é a maior desde 1946, quando o MoMA (Museum of Modern Art), também em Nova York, realizou outra a pedido de seu amigo pessoal Marcel Duchamp logo depois de sua morte. Filha de uma família abastada, Florine se interessa por arte e começa a estudar em 1892, mas desenvolve uma carreira artística mais profícua a partir de 1914, quando volta aos EUA após estudos na Europa. Ali toma contato e é fortemente influenciada por artistas de tendências principalmente simbolistas, como os "nabis" (franceses contrários ao impressionismo), o austríaco Gustav Klint e o suíço Ferdinand Hodler. Avessa ao mercado de arte, principalmente depois do fracasso de vendas de seus quadros em uma coletiva na galeria M. Knoedler & Company, em 1916, Florine evitava ter seus trabalhos expostos em galerias e eles acabavam nas mãos de parentes ou de amigos. Se a uma primeira visão seus trabalhos parecem simples e primitivos, um olhar mais atento denota um humor sutil, uma ironia crítica e um forte simbolismo no retrato que a artista faz da sociedade local através de seus piqueniques matinais, tardes de compras e noites de festas. O dia passa, mas existe algo que não é tão claro como o passar das horas no pequeno cotidiano de Florine. Uma dúvida que, na mesma medida em que atrai o observador com o uso despojado das cores, também o afasta com o distanciamento etéreo de seus personagens. Em 1918, escrevendo sobre "La Fête à Duchamp" (A Festa para Duchamp), um de seus mais importantes trabalhos, o crítico norte-americano Henry McBride disse: "Quanto mais eu penso, mais eu me zango por não ter sido convidado para a festa". Dispostas na relva, na sala de estar ou no turbilhão de uma loja de departamentos, seus personagens carregam poesia semelhante à dos homens e animais que navegam o céu onírico de Marc Chagall (1887-1985). Texto Anterior: Classe média ignora 'preço real' das coisas Próximo Texto: Mostra em Londres revela história da arte africana de todos os tempos Índice |
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