São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995 |
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Mostra em Londres revela história da arte africana de todos os tempos
OTÁVIO DIAS
A mostra fica até 21 de janeiro próximo na Royal Academy of Arts, em Londres. De 18 de junho a 22 de setembro de 1996, a exposição será apresentada no museu Guggenheim, em Nova York. A primeira sala convida o visitante a um mergulho no tempo. Um dos primeiros objetos da exposição é uma pequena pedra lapidada, provavelmente a cabeça de um machado, manufaturada há cerca de 1,5 milhão de anos. Segundo a curadoria da exposição, este seria o primeiro artefato conhecido produzido pelo homem e a pedra fundamental da história da arte. Surge aí uma questão: pode um objeto produzido para fins obviamente utilitários ser considerado arte? A dúvida dissipa-se em segundos, quando o visitante se depara com outra ferramenta de pedra, de cerca de 700 mil anos de idade, essa sim já com uma clara preocupação estética. Uma das mais impressionantes peças exibidas é o fragmento de uma estátua de pedra do faraó Akhenaten. Feita em 1.350 a.C., tudo o que chegou aos dias de hoje foi seu luminoso sorriso. Em seguida, o visitante é apresentado à arte da Costa Leste da África, que contrasta com a produção de outras regiões. Fascinado pela antiguidade dos objetos e pela beleza da arte egípcia, o visitante pode sentir uma ponta de decepção. Dois motivos podem levar ao desapontamento. Em primeiro lugar, o primitivismo dos objetos exibidos, se comparados à arte do Egito. Em segundo, a idade dos trabalhos, a maioria deles do final do século 19 e início do século 20. Há, no entanto, uma explicação. A arte africana é, em grande parte, realizada em madeira, material menos resistente ao passar dos anos. Pouco a pouco, no entanto, enquanto a exibição prossegue sua trajetória em sentido horário pelo continente africano, as primitivas imagens e máscaras, entalhadas quase sempre em uma única peça de madeira, começam a exercer seu encanto. Utensílios domésticos em cerâmica, instrumentos musicais, jóias e roupas, objetos religiosos e tapeçarias, ao todo 800 trabalhos coletados em 1.700 coleções públicas e privadas no mundo todo, são exibidos. Para os brasileiros, a exposição torna-se mais interessante quando mostra trabalhos da Costa Oeste da África, de onde veio a maioria dos africanos escravizados no Brasil. É possível reconhecer imagens de deuses da religião iorubá, como Xangô e Oxóssi, também presentes no candomblé brasileiro. Finalmente, a exposição chega ao Norte da África, cuja arte foi influenciada por civilizações européias, entre elas Roma, e, principalmente, pelo Islamismo. O percurso termina de novo no Egito, com exemplos de objetos produzidos durante o domínio turco sobre a região na Idade Média. Mostra: África: a Arte de um Continente Onde: Royal Academy of Arts (Burlington House, Piccadilly, Londres, tel. 0171/459-7438 Quando: até 21 de janeiro de 1996 Horário: das 10h às 18h. Preço: US$ 8; estudantes e pessoas com mais de 60 anos pagam US$ 5,6. Texto Anterior: Retrospectiva no Whitney Museum traz a NY de Florine Stettheimer Índice |
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