São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
"Pulp Fiction" consagra tendência pop
MARCEL PLASSE
Entre as duas etapas, o diretor de "Pulp Fiction -Tempo de Violência", Quentin Tarantino, passou de grata inovação à influência nefasta em Hollywood. Como na música, o cinema americano vive fase de atração pelos adjetivos "independente" e "alternativo". Transformado em "gênero", o cinema independente virou fórmula de sangue, crime, armas, diálogos bestas e referências pop -o legado de Tarantino. O cinema de Tarantino e da geração Sundance (do Sundance Festival de filmes independentes) tem a mania de se projetar para fora da tela. Tarantino recebe mais destaque em revistas de moda, música e estilo do que propriamente em publicações dedicadas ao cinema. Faz parte da tendência de globalização cultural, na qual a mais antiga das escrituras, a Bíblia, é citada no mesmo fôlego que os dogmas de uma nostálgica série de TV -"Happy Days", na cena final de "Pulp Fiction". "Pulp Fiction" não é só cinema. É um fenômeno cultural. Na forma de sample (trecho capturado por computador), o monólogo bíblico de Samuel L. Jackson virou música eletrônica. Os ternos alinhados dos assassinos profissionais, tanto de "Pulp Fiction" quanto de "Cães de Aluguel", viraram moda. John Travolta passou a ser levado a sério. E John Woo virou um cineasta revolucionário. Cada movimento é cuidadosamente orquestrado, do twist de Travolta (embalos de sábado) ao triângulo de armas apontadas à queima-roupa num restaurante barato (John Woo descarado). Um mosaico pop de proporções sérias. As referências são peculiares e pouco abrangentes. Incluem ainda clone de Mammie Van Doren, diálogos e funk de filme de gângster negro da década de 70, e discussão sobre o fim da cocaína como droga da moda. A cocaína, símbolo da década yuppie de 80, aparece substituída pela heroína, mais "cool" (por ser relaxante), sórdida e perigosa. Até ao escolher suas drogas, Tarantino é pop. E o pop é superficial, momentâneo. O que o define não é a permanência, mas a transitoriedade. "Pulp Fiction" não tem outra profundidade senão a do pop. À exceção do boxeador interpretado por Bruce Willis, nada se sabe do passado de seus personagens. A montagem não-linear reforça a presença opressora do presente. A volta de um personagem morto, sem o recurso de flash-back, reforça a noção de ausência de tempo. Não há passado. James Dean é garçon num bar estilo anos 50 e a Bíblia é sample de rock. Tudo é moderno. Tudo é tão anos 90. Filme: Pulp Fiction -Tempo de Violência Direção: Quentin Tarantino Elenco: John Travolta, Samuel L. Jackson, Bruce Willis, Uma Thurman Distribuição: Abril Vídeo (011/837-4500) Texto Anterior: 'Panteras Negras' deixa clara sua posição Próximo Texto: O RANKING DA SEMANA Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |