São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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'Panteras Negras' deixa clara sua posição

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Panteras Negras" é um filme furioso, sectário, revanchista, escandaloso. E, por tudo isso, é apaixonante. É impossível assistí-lo sem tomar partido.
O diretor embala e vende é o que ele acredita ser a história que o cinema branco norte-americano deixou de contar. Acreditar ou não no seu cinema é a parte do jogo que cabe à platéia. Foi assim com "New Jack City" e "Posse", seus trabalhos anteriores.
Em "Panteras Negras", Van Peebles radicaliza ainda mais sua posição sectária sobre a história dos negros nos EUA.
O roteiro do filme foi extraído do livro homônimo escrito por ninguém menos que o ator Melvin Van Peebles, pai do diretor. Tudo começa nos anos 60 com a falta de semáforo em um cruzamento da pacata cidade de Oakland, na Califórnia. Sem sinalização, um garoto negro é atropelado e morto nesse cruzamento.
A população negra local inicia uma vigília pacífica que é violentamente reprimida pela polícia. Um grupo de adolescentes revoltados assistia à cena.
Entre esses jovens estavam Huey Newton (Kadeem Hardison) e Bobby Seale (Courtney B. Vance), os fundadores do Partido dos Panteras Negras.
Eles decidem que as táticas pacifistas de Martin Luther King (1929-1968) são menos eficazes que o "olho por olho, dente por dente" apregoado por Malcolm X (1925-1965).
A partir daí, o filme pega fogo. Armados, os integrantes do já nomeado Partido dos Panteras Negras começam a reivindicar -e conseguir- alimentação, educação, respeito dos policiais e, até mesmo, o controle do cruzamento sem semáforo.
Nenhum tiro é disparado até a ascensão inconsequente de Eldridge Cleaver (Anthony Griffith) -ex-repórter da revista comunista "Ramparts"- entre os Panteras.
Van Peebles manipula um ninho de vespas ao explicar a queda dos Panteras. Defende a tese de que o chefe do FBI na época, Edgar Hoover, teria ordenado pessoalmente a disseminação das drogas nos guetos de Oakland para dinamitar as bases do movimento.
Duas curiosidades ajudam a manter os olhos grudados na tela. Uma é a surpreendente participação da rapper Nefertiti no papel da militante Alma. A outra é Angela Bassett representando pela segunda vez a mulher de Malcolm X, Betty Shabazz (a primeira foi em "Malcolm X", de Spike Lee). No mais, o filme passa uma visão idealizada dos Panteras. Privilegia o lado filantrópico do grupo ao mesmo tempo que escamoteia o envolvimento dos Panteras com o tráfico de drogas e homicídios. De maneira muito mais radical que Spike Lee, Van Peebles encara sua arte como uma oportunidade para um ajuste de contas.
E assim vão se amontoando as fitas que caricaturam inimigos (brancos), simplificam questões, acentuam maniqueísmos e escancaram conflitos.

Vídeo: Panteras Negras (Panthers)
Direção: Mario van Peebles
Elenco: Kadeem Hardison, Marcus
Chong e Courtney B. Vance
Distribuição: Top Tape (tel. 011/826-3066)

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