São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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Cores da era digital enfeitiçam as crianças

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Minhas filhas me vêem como um dinossauro. Uma figura desajeitada, que manipula o micro com cuidado e lentidão. Acham graça na minha surpresa diante de um ou outro programa genial.
Com 5 e 7 anos, nasceram monitoradas pelo computador na sala de parto, até hoje brincam alternadamente com Barbies, patins e computador (não imaginam uma sala de aula sem computador).
Como toda mãe orgulhosa, tenho emoldurados e pregados acima da minha mesa, no escritório, desenhos feitos por elas quando pequenininhas. No computador.
Faço o que posso para parecer à vontade em um universo absolutamente antinatural e desafiador: o dos pais nos anos 90.
A distância entre nós fica realmente gigantesca, quando comparamos a tecnologia colorida dos dias de hoje e a das imagens em preto-e-branco da minha infância.
Minhas filhas vivem me perguntando onde é que foram parar as cores daquela época, como se o mundo fosse de fato em preto-e-branco.
Mesmo o computador, que as meninas já conheceram em telas cheias de tons e impressoras que cospem desenhos multicoloridos, foi-me apresentado no mais tradicional preto-e-branco.
Criadas sob o feitiço das cores, minhas filhas não conseguem concentrar-se diante de um monitor monocromático.
O mercado também acabou cedendo às pressões desses pequenos tiranos, e as cores chegaram aos nossos micros de mesa mais cedo do que se imaginava.
Uma excelente impressora Hewlett-Packard, Canon ou Epson custa hoje menos de US$ 300. O custo por página da impressão em cores vem caindo, ainda que a qualidade só tenha melhorado.
Quase todos os portáteis também têm telas coloridas. E a garotada agora avança nos laptops dos pais para fazer bonito na escola.
O desinteresse das crianças diante de um monitor preto-e-branco é até compreensível, quando deparamos com as imagens absolutamente vivas e ricas em cores computadorizadas.
Em technicolor, esse é um caminho sem volta. Melhor seguir em frente, só se atualizando, sem olhar para trás.
Há, no entanto, surpresas no percurso. Sou, como Woody Allen, radicalmente contra a colorização dos filmes antigos, e minha tese de que quase tudo é hereditário se comprova quando vejo as meninas aqui de casa assistindo, com prazer e atenção, a programas como "I Love Lucy" ou "Família Monstro", em preto-e-branco.
Ao perguntar se elas prefeririam esses seriados em cores, responderam, sem tirar os olhos da tela: "Não, é bom assim".

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