São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Restaurante mais antigo de São Paulo expulsava 'gaijin'

Dono do Hinodê serve sushis na Liberdade há 30 anos

THAÍS OYAMA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando os primeiros brasileiros começaram a chegar ao restaurante do japonês Takeshi Amano para experimentar seus exóticos bolinhos, a reação -atrás e do lado de fora do balcão- foi de estranhamento.
Os clientes olhavam com desconfiança para aqueles montinhos de arroz cobertos por peixe cru e davam as primeiras bocadas de sobrancelhas franzidas. Amano espiava os brasileiros com o canto do olho e achava esquisito o fato de eles gostarem tanto dos enfeites de seus sushis -muitos tentavam comer até mesmo os arranjos de plástico.
Hoje, os restaurantes japoneses já não espantam mais ninguém: são cerca de 200 em São Paulo, segundo Hugo Kawauchi, 44, secretário da Associação Brasileira de Culinária Japonesa. “Só nos dois últimos anos abriram na cidade 70 novas casas”.
Em 1965, o Hinodê era apenas uma acanhada pensão. A mulher de Takeshi fazia a comida para os hóspedes.
Seus pratos faziam tanto sucesso que passaram a atrair clientes de fora e, em pouco tempo, os Amano resolveram se dedicar só ao restaurante.
A casa virou uma confraria de japoneses saudosos do sabor do país que haviam deixado. Hinodê significa “nascer do sol”, referência à terra do sol nascente.
Os homens, os únicos clientes da casa (às mulheres raramente era dado o direito de frequentar lugares assim), chegavam no final da tarde e -vários saquês depois- terminavam a noite na mais famosa boate japonesa da época, o Aoyagui, no Jabaquara.
Ele chegou a expulsar muito “gaijin” (estrangeiro, forma pela qual os japoneses designavam os brasileiros) do restaurante só porque perguntavam se o peixe estava fresco.
Hoje, a frequência do Hinodê (r. Thomaz Gonzaga, 62, na Liberdade) é quase totalmente brasileira. A casa foi toda reformada, mas o hábito dos “gaijin” não mudou: continuam perguntando se o peixe está bom, só que Amano não liga mais. “Já entendo os brasileiros.”

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