São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Descendentes acham que discriminam não-orientais

Para 58%, japonês em SP tem preconceito contra brasileiros

BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Descendentes de japoneses em São Paulo acham que os integrantes da sua comunidade têm preconceito em relação a brasileiros não-orientais. Por outro lado, acham que os brasileiros não têm preconceito em relação a eles.
A pesquisa do Datafolha mostra que 58% dos entrevistados acham que existe preconceito dos descendentes em relação aos brasileiros.
A maioria das mulheres ouvidas (64%) afirmou que há preconceito, assim como os descendentes mais jovens, na faixa de 16 a 25 anos (71%), e 62% dos sanseis (netos de imigrantes japoneses).
Dizem que os brasileiros têm preconceito em relação aos japoneses 35% dos descendentes.
Já se sentiram discriminados por serem descendentes 23% dos entrevistados. Desses, 6% apontam piadas e brincadeiras como a principal situação de discriminação; 5% dizem que são chamados de “japonês” em vez de serem chamados por seus nomes.
“Em grupo de japonês não entra ocidental. Em geral há um certo preconceito, na faculdade tem muito disso, o grupo se fecha. Isso acontece com outros também, como judeus, por exemplo, só que você olha e não reconhece, enquanto japonês está na cara”, diz a estudante de odontologia Sílvia Tsukumo, 21.
Sílvia estuda na USP e acredita que essa restrição acontece por uma questão de ação e reação. “Por se sentir posta de lado, a pessoa acaba segregando.”
A estudante diz não ser esse seu caso. “Sempre andei muito com ocidentais. Quando era menor, morria de raiva quando passava e falavam ‘arigatô’ para mim, mas depois eu mesma passei a fazer piada, sou debochada.”
Sílvia não sabe falar japonês, mas diz que vai aprender. “Devo ir para uma estação de esqui no Japão e pretendo passar três meses lá, mas vou ter que trabalhar e preciso saber a língua.”
A sansei (terceira geração de imigrantes) Fernanda Matsuda, 16, frequenta há três anos bailes promovidos em clubes da cidade para a comunidade japonesa e só namora descendentes.
“Nunca fui a bailes de gaijin (não-japoneses) e prefiro ficar com nihonjin (japonês)”, diz. “Não é preconceito, nunca tive vontade de ir a baile ocidental e não tenho contato com gaijin”, afirma.
O som dos bailes promovidos para descendentes é o dance. Segundo os frequentadores, a diferença em relação às festas de ocidentais está no modo de dançar.
“A gente gosta de inventar passinho, dançar em grupo”, diz a estudante Priscila Sugawara, 16.
A estudante Cláudia Sugii, 18, diz que o baile para japoneses “é mais fechado”. “Ou você vem em turma ou não consegue conhecer ninguém e dançar”, diz.
A universitária Priscila Emy Mizuguti, 18, discorda de Cláudia. Ela frequenta há dois anos os bailes para a comunidade. “Dá para conhecer as pessoas, meu atual namorado eu conheci num baile.”
Priscila namora o operador de computação Pedro Mebling, 24, brasileiro que frequenta as festas para japoneses porque a “mulherada é mais bonita e o pessoal é mais calmo”.
O estudante Lincoln Urushino, 16, costuma frequentar o shopping Paulista com os amigos, todos orientais. “A família prefere que os filhos andem com japoneses, apesar de as pessoas falarem que não. Eles querem que você case com japonês”, diz.
“Não andamos em grupo porque excluímos. Nós é que somos excluídos, mas, no geral, nos damos bem com brasileiros”, afirma o amigo Marcos Tamaki, 18.
“É mais fácil conversar com japoneses, temos mais coisas em comum”, diz Roberta Rishihata, 15. As conversas são em português, pois só Tanaki fala japonês.
Em comum entre os amigos estudantes, além da descendência, está a adoração pela culinária japonesa, que eles comem geralmente em casa. “É aquela história de que a avó já fazia, os pais fazem e a gente vai acabar fazendo também”, diz Helena Oshiro, 15.

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