São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995 |
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Mas próstata ela nunca terá
MOACYR SCLIAR No bar, tio e sobrinho falavam sobre a moça que se vestiu de homem para namorar uma colega.- Você acha mesmo que uma mulher pode passar por homem? -perguntou, incrédulo e ultrajado, o rapaz. O tio, que era um homem refletido, deteve-se um pouco antes de responder. - Acho que sim. Acho que ela pode passar por homem. - Você acha? O sobrinho, desapontado. - Pois eu não sei. Claro, ela pode cortar o cabelo, pode se vestir como homem, pode até falar grosso, porque tem muita mulher com voz de barítono. Mas e o resto? Você acha que isso faz de uma mulher um chefe de família, por exemplo? - Tem muita mulher que sustenta a família. Sustenta até o marido. - Mas só quando o homem é omisso. Quando não honra a barba que tem na cara. Aliás, aí está: a barba. Você acha que ela consegue arranjar barba? - Por que não? Pode colocar uma barba postiça. Ou pode tomar hormônio e criar barba. Acontece. O sobrinho, desconcertado, não respondeu de imediato. Mas logo em seguida voltou à carga: - Tem uma coisa que ela não arranja de jeito algum. - O quê? - O pênis. O cacete. A outra dizia que ela tinha um volume no lugar. Volume, pode ser. Mas pênis? Não acredito. - Bem, pênis de verdade talvez não. Mas esses que eles vendem nas lojas de sacanagem são uma imitação muito boa. Como na história do lobo e do cordeiro, o sobrinho teve de pensar um pouco, antes de retornar ao ataque. E dessa vez era o bote final: - A próstata! - O que é que tem? - Próstata ela nunca vai arranjar. Nem de verdade, nem de mentira. Pode tomar hormônio à vontade: próstata, jamais. A próstata é nossa. - É verdade -suspirou o tio, que tinha uma prostatectomia marcada para o mês seguinte. A próstata é nossa. Ia acrescentar: Eu gostaria que não fosse. Mas desistiu. Não valia a pena estragar a euforia do sobrinho. Texto Anterior: Bolivianos acusados de tráfico são interrogados Próximo Texto: Um teleporto para São Paulo Índice |
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