São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Um teleporto para São Paulo

ANTÔNIO MARCOS CAPOBIANCO

Pensar as metrópoles atualmente impõe a percepção da inter-relação entre globalização, cidade global, informação e telemática. As tendências de redistribuição espacial da população brasileira indicam uma concentração crescente nas cidades, especialmente nas grandes.
Noventa e três em cada cem paulistas moram em cidades, e dez em cada cem brasileiros moram na Grande São Paulo (GSP). A GSP tem o terceiro orçamento do país, a despeito de seus mais de 4 milhões de encortiçados/favelados e das 65 mil pessoas que "moram" nas ruas.
No mercado globalizado, as relações econômicas dão-se entre as grandes cidades -especialmente entre as cidades globais (ou mundiais)- mais do que entre países.
É transferido diariamente entre as grandes cidades do mundo, eletronicamente, cerca de US$ 1 trilhão.
A financeirização da riqueza dá-se em velocidade superior à expansão mundial da produção e do comércio. E a informação é hoje recurso estratégico condicionante da competitividade.
Enquanto no custo da produção cai cada vez mais o peso da matéria-prima, da mão-de-obra, da energia e da localização, cresce o peso do capital e da informação.
A informação acumulada na história até hoje corresponderá a 1% daquela existente em 2050; ela dobra a cada dez anos.
Entre 1880 e 1980, nos EUA, cresceram de 10% para 50% os empregos ligados à informação e de 25% para 30% os ligados a serviços. No Brasil, o emprego no setor de serviços cresceu de 46,06% em 1981 para 54,47% em 1990.
Na cidade de São Paulo, já tínhamos, em 1991, 70,8% no terciário, contra 28,6% na indústria.
Nesse contexto, destaca-se o papel das telecomunicações, da teleinformática e a disseminação dos teleportos, infra-estrutura de ponta para a conectividade telemática global.
Sua implantação atua como uma espécie de "âncora", um elemento de requalificação de áreas urbanas, além de se firmar como elemento de simbolismo necessário à identidade da metrópole.
A cidade do Rio de Janeiro já está implantando o seu teleporto, enquanto São Paulo -com tráfego telemático muito superior- ainda não tem o seu teleporto de alta capacidade. Há apenas teleportos "restritos".
Com a crise fiscal do "welfare state", a emergência da acumulação flexível, o desmoronamento do socialismo real e a consolidação da globalização econômica, desponta o paradoxo: o crescimento econômico mundial confirma a eficiência do capitalismo, mas cresce o desemprego e definham a solidariedade e as utopias coletivas.
É preciso refletir sobre as ponderações do 4º Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento Humano, do PNUD (ONU -Organização das Nações Unidas): o desemprego nos anos 90 será devastador; apesar do crescimento econômico, o desemprego triplicou nos 25 países ricos da OCDE; reforma agrária e investimento em educação são a chave do sucesso de países do leste asiático.
Todavia, além dessas medidas (e soluções político-administrativas como o Parlamento Metropolitano), a GSP deve atrair indústrias e, considerando o crescente peso do seu terciário superior e a vantagem da "emancipação" plena de São Paulo como cidade global, implantar infra-estrutura necessária aos novos tempos.

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