São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Leny Andrade grava com Wynton Marsalis

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de uma das melhores cantoras do Brasil, a carioca Leny Andrade é a mais internacional delas.
Morando em Nova York há dois anos, Leny tem muitos músicos estrangeiros na lista de amigos e admiradores.
Dois desses acabam de fazer convites para discos em conjunto com a cantora, o trompetista Wynton Marsalis e o saxofonista Paquito D'Rivera.
São dois projetos distintos que devem começar a se realizar até o final do ano.
O álbum com Wynton -que ela conheceu há dez anos, durante um festival de jazz no Rio- deve sair antes, embora o repertório não tenha sido escolhido.
A amizade surgiu em uma canja dada por ambos em uma casa noturna carioca.
Já o disco com o cubano Paquito D'Rivera será dedicado a um ritmo latino, o bolero.
"Green Card"
Os projetos e a convivência com músicos estrangeiros são frutos da decisão da cantora de morar nos Estados Unidos.
Agora, Leny está deixando o Brasil definitivamente. Depois de uma rápida passagem pelo país, ela passa o mês de outubro em Nova York.
"Não posso colocar os pés fora da cidade", diz.
O motivo é que ela vai receber o "green card" -a autorização para estrangeiros residirem e trabalharem nos Estado Unidos.
Leny não pensa em voltar tão cedo a morar no Brasil. "Não gosto de calor", diz.
Nesses "exílio", ela já se apresentou em templos do jazz norte-americano, como o Blue Note.
Nos Estados Unidos fez amizade com estrelas do jazz, como Carmem McRae, Ella Fiztgerald e Tony Bennet.
Guarânia
Mas essa convivência não faz ela renegar a origem. "Não abro mão da música brasileira. Jazz para mim é uma cultura", explica.
Para ela, um cantor tem que interpretar de tudo. Tudo mesmo.
"Um dia eu vou pegar uma guarânia para cantar. Músicas são como pessoas, dependem de trato", exemplifica.
Na verdade, Leny foi eclética antes da onda de cantoras ecléticas que assola a MPB.
Não se importa muito com isso. Mas não poupa alfinetadas nas colegas de classe.
"A maior parte das cantoras brasileiras gosta de escolher um caminho e ficar imitando. Eu tenho horror a isso. A maior parte das novatas copia o repertório da Elis (Regina)."
Para ela, hoje em dia, a maioria das cantoras faz muita pose. É por isso que ela gosta de apresentações ao vivo.
"Show não tem disfarce. A pessoas quando abre a boca, com um microfone na mão, não tem como enganar", afirma.
Sobram elogios para poucas cantoras: Joyce, Jane Duboc, Nana Caymmi, Angela Ro-Rô.
Mas Leny empaca quando tem que escolher a melhor cantora do país.
"É um problema, a Dalva (de Oliveira) já morreu, a Elizete (Cardoso) já morreu..."
Mesmo se definindo como antiestrela, Leny é ciente de seu talento.
"Voz é coisa e timbre é uma coisa do criador. Mas quando eu canto ninguém consegue olhar para o lado que eu não permito", afirma.
E acaba por confessar o seu grande sonho: "Eu me considero a última crooner. Se a vida deixar eu faço uma orquestra para mim".

Texto Anterior: Você pode dizer o que quiser em sua lápide
Próximo Texto: 'Luz Negra' discute fossa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.