São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995 |
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"Praga de Madrinha" acerta na fórmula para fazer comédia leve
MÔNICA RODRIGUES COSTA
No estilo do "living room comedy", "Praga de Madrinha" provoca risos tratando de assuntos como preconceito racial. Essa comédia de costumes leve promete sucesso de público, ainda que o diretor e autor, Roberto Athayde, defina o espetáculo como "uma tragicomédia étnica". Athayde acerta na fórmula, como aconteceu com seu texto "Apareceu a Margarida" (dos anos 70), com Marília Pêra, que fez sucesso no Brasil e foi levado aos teatros de mais de 30 países. "O Mistério de Irma Vap" e "O Médico e o Monstro", adaptações suas, tiveram igual destino. A melhor atriz em cena, Betty Erthal, faz a antropóloga Matilde. Atuou em "Trair e Coçar é só Começar", que ficou em cartaz durante anos, com a platéia lotada. "Praga de Madrinha" projeta uma realidade caricaturada. A trama mostra a aflição de Matilde para convencer a afilhada (Carla Costa) a casar com um "indivíduo da raça negra, X ou Y". A chantagem é a herança. Luana não se importa. Namora um japonês em Paris, enquanto decide entre o vizinho (Anderson Mller), "cheirado, zerado, doidão" e um estudante de direito (Alexandre Morenno), negro e esforçado. A madrinha roga uma praga. O branco que encostar na afilhada fica impotente. Enquanto isso, a índia Alecir (Lúcia Segall), curvada e submissa, segura a vassoura. É diversão garantida ver Betty Erthal compor Matilde, cheia de sacolas, tendo muitos chiliques, representados com perfeição. Erthal tem humor inteligente. A personagem ajuda a atriz, com falas engraçadas. Erthal demonstra tanta futilidade que põe em relevo todos os clichês da montagem. Sobra pouca reflexão. A peça só aponta para as questões de forma jocosa. Não tem, por exemplo, a ferocidade de Genet para discutir a submissão de alguns seres humanos a outros. Os comentários irônicos ficam por conta de Matilde, cheia de contradições. A personagem subverte a imagem do antropólogo. No fim, substitui o poder do dinheiro pelo da morte. Peça: Praga de Madrinha Direção: Roberto Athayde Elenco: Betty Erthal, Anderson Müller, Carla Costa, Alexandre Morenno e Lúcia Segall Onde: Teatro Mars (rua João Passalaqua, 80, tel. 605-9570) Quando: quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h Quanto: R$ 15 (quinta), R$ 18 (sexta e domingo) e R$ 20 (sábado) Texto Anterior: Alan Parsons traz pop progressivo a SP Próximo Texto: Série traz desenhos de artistas brasileiros em álbum para colorir Índice |
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