São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Arafat admite dividir Jerusalém com Israel

JOSÉ ARBEX JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Estado palestino, assentado sobre os territórios da Cisjordânia e de Gaza, já existe como realidade política e social. Seu "atestado de nascimento" foi passado pelos acordos celebrados em 28 de setembro, e sua fundação formal é só uma questão de tempo -afirma à Folha o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Rahaman Abdul Rauf al Qudua al Hussein, mais conhecido como Iasser Arafat, 66.
Procurando mostrar otimismo, apesar das imensas dificuldades enfrentadas pelo acordo de paz com Israel, Arafat diz acreditar na convivência pacífica e harmoniosa entre árabes e judeus.
Como prova, já admite, mesmo que implicitamente, uma proposta aventada pelo Vaticano e encarada até há pouco como heresia pelos dois povos: que Jerusalém seja uma capital binacional, ao mesmo tempo de Israel e da Palestina.
Se Israel não atrasar a implementação prática do acordo -diz Arafat-, a Autoridade Palestina realizará suas primeiras eleições -"livres, pluralistas, democráticas e transparentes"- em janeiro de 1996. Arafat declarou-se pronto para aceitar sua eventual derrota, mesmo se isso significar a vitória do Hamas (Movimento de Resistência Islâmico).
O líder palestino chegou ao Brasil na madrugada de terça-feira, para uma visita-relâmpago de apenas um dia. Cansado após uma extenuante agenda oficial -que incluiu um jantar com o presidente Fernando Henrique Cardoso-, Arafat recebeu a Folha às 23h30, em sua suíte presidencial no hotel Carlton de Brasília.
Ele deixou a cidade às 5h25 de ontem rumo a Cartagena (Colômbia), onde participou da reunião dos países não-alinhados.
Sempre amável, Arafat deixou, às vezes, escapar observações mal-humoradas. Instado pela Folha, Arafat disse que não se arrepende de nada do que fez e que seu maior orgulho é a "elevada qualidade espiritual" de seu povo. Falou de seu casamento com Suha, 33, de sua filha Zahua, nascida há dois meses em Paris, e de seus 28 filhos adotivos (órfãos de pais mortos em campos de refugiados).
Arafat disse, também, que leva do Brasil uma sensação de "amizade calorosa", a qual espera poder retribuir em seu próprio país.

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