São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Hollywood é terra da beleza e do mau gosto

DO "LE MONDE"

Ela não inspira sentimentos moderados. É detestada ou odiada. Proporciona expansões ou náuseas.
Hollywood é lugar nenhum, o lugar mais importante de um mundo imaginário, um espaço tão limitado no terreno -algumas colinas, dois ou três vales, sem medida comum com o que se descortina no mundo sob a bandeira de Hollywood- que a gente é sempre surpreendido por uma sensação de irrealidade vertiginosa.
Pois então, é de lá que vem tudo -tantas histórias, lendas, sonhos-, desses poucos metros de terras tranquilas em que não se vê nenhuma grande fábrica?
Sim, foi ali mesmo que todos os heróis da tela passaram, foi lá que tudo se fez.
E se há um local histórico que os americanos podem reivindicar como autenticamente deles, juntamente com Nova York e Las Vegas, é mesmo Hollywood.
Nenhuma outra nação poderia ter inventado esse local único, admirável e ridículo, terno e venenoso, essa mistura inesgotável de beleza pura e de mau gosto deliberado, que só pode desconcertar um europeu ou seduzi-lo para sempre.
Hollywood não é impressionante como Nova York ou Chicago, é um bonito bairro nas alturas, acima de um aglomerado, que não se assemelha a nada.
Um amontoado de cidades horizontais, alinhadas ao longo da costa pacífica e à beira de uma bacia montanhosa onde estagnam as nuvens de petróleo e de ar marinho, com auto-estradas em todos os sentidos.

Imóveis e publicidade
Como um grande bilhar elétrico, no meio de milhares de palmeiras intermináveis, magrelas e simples, que crescem para o alto em cima de um tronco muito esguio, como um prazer tardio.
Hollywood é o nome de uma pequena cidade que está com tudo.
As pessoas que a fundaram em 1887, o senhor e a senhora Wilcox, viajavam de trem para o leste quando a senhora Wilcox, discutindo com uma outra passageira que lhe falava de sua cidade natal, Hollywood, achou o nome tão encantador que decidiu dá-lo a sua casa ao voltar para Los Angeles.
Mais tarde, em 1923, um corretor de imóveis pensou construir o nome de Hollywood em letras de madeira gigantes sobre as colinas para vender suas casas.
Essa publicidade tornou-se uma assinatura imortal que já foi restaurada piamente, pois Hollywood não é um lugar religioso, mas um lugar de devoções múltiplas.

LEIA MAIS
Sobre Hollywood e o cinema nas págs. 6-22 e 6-24
Tradução de Bertha Halpern Gurovitz

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