São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Indústria pode matar a arte de fazer filmes

DO "LE MONDE"

Um milagre impediu que os motins destruíssem os bairros elegantes de Los Angeles. Não há proteção ou cerca nos hectares de Beverly Hills, onde jorra o dinheiro.
As casas mais ricas têm sistemas de alarme contra roubo, mas o que é um alarme contra as multidões que saquearam o centro de Los Angeles?
Os moradores continuam a passear com Armani e os Rolex à mostra, a sair de Rolls-Royce com o cachorrinho frisado. É um charme muito perverso e contagioso, cujo erro é levar a duvidar de tudo, a dar igual valor tanto à cópia quanto ao original.
Se despertamos por um instante do doce torpor de uma cidade onde se tem a impressão de que as pessoas nunca trabalham, se esquecemos da música do dinheiro que corre sem cessar, se vemos na TV, entre dois anúncios, um filme antigo, temos a tentação de perguntar por que ninguém mais faz hoje "Cantando na Chuva."
Em "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", Woody Allen declarava que a principal contribuição cultural de Los Angeles era permitir virar à direita quando o sinal está vermelho. Os los-angelinos retorquiram: em que lugar Woody Allen teria sucesso se não em Nova York?
Pode-se temer que, ao se tornar uma indústria tão poderosa, o cinema arrisque perder o que fazia dele, há pouco tempo, uma arte, esse desejo de dizer alguma coisa para o espectador sobre sua época, sobre ele mesmo, além do espetacular, um desejo que, apesar de tudo, ainda existe em NY.

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