São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Fascículos são úteis e legítimos, diz 'El País'

DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor do jornal espanhol "El País Internacional", Ángel Luis de la Calle, disse ontem que "todos os grandes diários espanhóis oferecem hoje produtos promocionais", como fascículos.
Segundo Calle, que falou no último painel do 2º Fórum Folha de Jornalismo e Mídia, encerrado ontem em São Paulo, o grau de competição na imprensa espanhola levou a uma situação em que "não se pode deixar de fazê-lo", referindo-se às promoções.
O painel sobre "A Experiência dos Fascículos" foi mediado por Matinas Suzuki Jr., editor-executivo da Folha, e teve como comentadores o editor Pedro Paulo Poppovic, ex-diretor da Abril Cultural, o secretário de Redação do jornal argentino "Clarín", Ricardo Kirschbaum, e o diretor-executivo de Circulação e Marketing da Folha, Flávio Pestana.
Ángel Luis de la Calle, ainda que afirmando a inevitabilidade dos fascículos e acreditando que eles e as demais promoções "são úteis e legítimos para atrair leitores", declarou:
"O meu gosto está claramente distante deste tipo de estímulo. Mas os mercados são como são."
Ele relatou em detalhe a experiência do "El País" e das demais publicações espanholas, incluindo as revistas, com as promoções. Citou como exemplo imediato o domingo passado, quando os concorrentes diretos do "El País", os diários "ABC e "El Mundo", iniciaram grandes promoções.
A resposta do "El País", junto às crianças, foi ampliar a distribuição de imagens do filme "O Rei Leão" e distribuir de uma vez, numa "iniciativa muito inovadora", três milhões de envelopes com sementes de árvores.
Ele chamou atenção para os riscos da estratégia, que pode se tornar uma "droga", um vício para os leitores. Comparou as promoções com andar de bicicleta. "Se deixar de pedalar, você cai."
Pedro Paulo Poppovic afirmou: "Eu não sei como vocês vão descer do tigre".
Ele fez um relato histórico da experiência da Abril Cultural com os fascículos, nas décadas de 60 e 70, e associou a queda nos lançamentos de então à diminuição da qualidade, traçando paralelo também com os fascículos, hoje.
"Houve uma diversificação do produto. Os fascículos, que eram pura cultura, foram ficando práticos. Depois vendíamos os fascículos com discos, brindes. Depois o fascículo desapareceu."
A queda na qualidade, segundo ele, continua, e "o fascículo está cada vez mais desqualificado".
Flávio Pestana respondeu depois que produtos como o atlas histórico Folha/"The Times" apresentam "extrema qualidade, comparados ao que o brasileiro médio está acostumado".
Citando o exemplo da Espanha, onde os jornais começaram a trabalhar com promoções há sete anos, ele disse que a expectativa para o Brasil é que a experiência "dure muito tempo".
Pestana citou dados do DataFolha, que fez uma pesquisa junto aos leitores de bancas após a edição do atlas histórico, e "90% disseram que continuariam ou provavelmente continuariam" a comprar o jornal.

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