São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente procura abafar crise com ministro do PMDB

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso comandou ontem uma “operação abafa” para impedir que o ministro Cícero Lucena (Secretaria de Políticas Regionais) se sentisse desprestigiado em seu governo. Lucena é ligado ao PMDB da Paraíba.
O secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge, disse ao ministro que o Palácio do Planalto não pretende demiti-lo ou promover qualquer mudança do primeiro escalão do governo. FHC também não considera a hipótese de o ministro pedir para sair.
O porta-voz do Planalto, Sergio Amaral, deu entrevista negando que o presidente tivesse feito cobranças à Paraíba.
Ontem, o próprio FHC disse que não pretende mexer em sua assessoria. “Não quero reforma ministerial nem amarrado. Reforma, nem pensar”, afirmou na saída da abertura da mostra de quadros “Coleções de Brasília”, em exposição no Itamaraty.
A demissão de Lucena foi aventada em reunião que Fernando Henrique promoveu, na última terça-feira à noite com lideranças dos partidos governistas para discutir a votação da sua proposta de reforma administrativa pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ).
Na ocasião, FHC cobrou dos governistas apoio ao seu projeto e disse que não entendia a oposição do PMDB da Paraíba. Segundo o presidente, o governo vem atendendo às reivindicações dos deputados e o partido ainda tem um ministro (Lucena).
O presidente chegou a ligar para o deputado Ivandro Cunha Lima (PMDB-PB) para cobrar explicações sobre o seu voto e os de José Luis Clerot e Gilvan Freire - todos integrantes da CCJ.
Ao desligar o telefone, FHC disse aos líderes: “A mesma caneta que nomeia é a que demite”. O recado estava dado.
Ontem, o presidente negou que tivesse feito tal comentário. “Deve ser algum candidato a ministro que está espalhando o boato”, disse no Itamaraty. À noite, em São Paulo, perguntado sobre suas relações com os peemedebistas declarou: “O PMDB está ótimo”.
Sobre as resistências ao seu projeto, FHC disse, ainda no Itamaraty, que a comissão parlamentar encarregada de estudar o projeto de emenda da reforma administrativa vai garantir “salvaguardas” para evitar perseguições políticas contra o funcionalismo público.
“O que desejamos é a racionalização dos Estados. Ninguém está querendo acabar com as carreiras do funcionalismo, nem demitir ninguém. É uma coisa muito mais simples, racional e lógica”, disse.
“Estão fazendo uma espécie de terrorismo cultural para assustar os funcionários públicos”.
Na “operação abafa", FHC contou, inclusive, com o apoio de lideranças do partido. Os líderes peemedebistas na Câmara e no Senado, Michel Temer (SP) e Jáder Barbalho (PA), procuraram atenuar as declarações do presidente.
Temer foi à tribuna da Câmara e afirmou que havia uma tentativa de intrigar o PMDB com o governo. Disse que “nada do que foi retratado foi dito pelo presidente. Tivemos uma conversa caseira em que o presidente manteve a elegância de sempre”.
O deputado, no entanto, disse que o partido vai dividido para a votação da CCJ na próxima semana. “Quem já manifestou a sua posição vai mantê-la. O PMDB terá cinco ou seis votos contra o governo”, afirmou.
O líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), também ocupou a tribuna e negou que o presidente tivesse ameaçado demitir Lucena. O líder do governo no Congresso, Germano Rigotto (PMDB-RS), reforçou o depoimento de Santos.
Depois de ser informado por Eduardo Jorge de que continua sendo apoiado por FHC, o ministro Cícero Lucena disse se sentir “desconfortável” com a resistência do PMDB paraibano em votar a favor da proposta de reforma administrativa do governo.

Texto Anterior: Amamentação protege contra alergias até a adolescência
Próximo Texto: Agora presidente do PMDB, Paes revive viagem à sua terra natal
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.