São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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O evangélico FHC

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Notas publicadas na seção Painel de ontem: "FHC perdeu as estribeiras por causa da reforma administrativa. E os pruridos sobre fisiologismo também. Ao líder Epitácio Cafeteira disse que o PPB só não tem cargos no governo 'porque não pediu'. Pelo jeito, pediu, levou".
E mais: "Anteontem à noite FHC já perdera a calma em uma reunião com líderes da Câmara, que o presenciaram dizer, pelo telefone, a um deputado do PMDB da Paraíba: Não se esqueça de que a mesma mão que nomeia é a que demite".
De tudo isso se depreende que o objetivo final de FHC é a sua reeleição. Ele está armando as coordenadas para obter do Congresso a mudança na Constituição nesse sentido. Não governa pensando no Brasil, mas em seu projeto pessoal. Sabe que o importante é domesticar o Congresso -e, com a experiência de alguns mandatos legislativos, ele conhece o eleitorado que realmente lhe importa.
Para conquistar o outro eleitorado, formado por alguns milhões de votantes, ele subiu em jegue, comeu buchada de bode e prometeu segurança, saúde, educação etc. Esse eleitorado só será ouvido e cheirado daqui a três anos. O que interessa agora é o eleitorado resumido nos 600 e tantos congressistas. Andar de jegue ou digerir buchadas não impressiona esse tipo de eleitor.
Ele conhece a moeda que tem de pagar -e para isso dispõe dos computadores de um assessor que trata desses assuntos. FHC está um ponto acima do Robertão, que falou na oração de São Francisco de Assis. Como intelectual, ele busca máxima superior no próprio evangelho: pedi e recebereis.
Nunca o país presenciou tal e tamanha exibição de fisiologismo explícito. Abrindo claros no funcionalismo para nomear os neobarnabés indicados pelos pedintes, satisfazendo os grupos econômicos que estão se cevando na modernidade do Estado, FHC prepara cuidadosamente seu bote fisiológico final: a reforma em causa própria. Que tanto pode ser a reeleição como a simples prorrogação, que é mais barata aos cofres públicos. O Congresso, em pedindo, FHC lhe dará tudo.

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