São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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A nova (des)ordem

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Em tempos de globalização de mercados, os países desenvolvidos passam por um processo perverso: o crescimento de sua riqueza é acompanhado por uma diminuição no nível de emprego. Atribui-se o encolhimento do mercado de trabalho à escalada dos padrões de qualidade e produtividade das empresas.
A revolução tecnológica é um processo sem volta. A cada inovação, levas de trabalhadores vão sendo privadas do relacionamento diário com o relógio de ponto.
Estudo feito por Carlos Alberto dos Santos Vieira e Edgard Luiz Gutierrez Alves, do Ipea, registra algo de que já se suspeitava: a modernização do modelo produtivo, fenômeno recente entre nós, assusta também o trabalhador brasileiro.
A exemplo do que ocorre no chamado Primeiro Mundo, a maior vítima do avanço tecnológico e gerencial é a mão-de-obra menos qualificada. O novo mercado tende a desprezar o funcionário formado à moda antiga, adestrado para executar tarefas específicas.
Na economia emergente são valorizados trabalhadores de formação educacional mais densa, pessoas com maior capacidade de raciocínio. "De maneira crescente é exigido menor grau de habilidades manipulativas e maior grau de abstração no desempenho do trabalho produtivo", diz o estudo do Ipea. "Torna-se importante o desenvolvimento da capacidade de adquirir e processar intelectualmente novas informações, de superar hábitos tradicionais, de gerenciar-se" a si próprio.
No contexto desse novo modelo, o grau de instrução do trabalhador passa a ser sua principal ferramenta. Os números disponíveis no Brasil a esse respeito são desoladores. Conforme pesquisa nacional feita pelo IBGE em 90, cerca de 33 milhões de trabalhadores brasileiros (53% do mercado de trabalho) tinham no máximo cinco anos de estudo.
A experiência mundial, ainda de acordo com o trabalho do Ipea, indica que são necessários pelo menos oito anos de estudos para que uma pessoa esteja em condições de receber treinamentos específicos.
O maior desafio do Brasil de hoje é, portanto, educar a sua gente. Destruído como está, o conserto do modelo educacional do país é tarefa para duas décadas. Até lá, a horda de marginalizados vai inchar.

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