São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
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Almodóvar reclama da projeção no Masp

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor espanhol Pedro Almodóvar disse ontem que o que se viu na abertura da 19ª Mostra Internacional de Cinema foi "uma pálida sombra" de seu novo filme, "A Flor do Meu Segredo".
Almodóvar não gostou da projeção ao ar livre realizada anteontem à noite, no vão livre do Masp, devido ao barulho e à iluminação que vinha da rua. Cerca de 2.000 pessoas estiveram presentes à projeção.
Almodóvar disse ainda, na entrevista coletiva realizada ontem no hotel Maksoud Plaza, que se considera "um romancista frustrado". "Gosto de escrever, mas é um costume que está se perdendo. As pessoas escrevem melhor do que falam. Deveríamos voltar a escrever para nos relacionarmos com os amantes, com os amigos, com a família. Há mais afeto na escrita, mas já não temos tempo de fazer isso", disse o cineasta.
Almodóvar estava acompanhado pelas atrizes Marisa Paredes e Rossy de Palma, que interpretam as irmãs Leo e Rosa, respectivamente, em "A Flor do Meu Segredo". No filme, a protagonista Leo é uma escritora de romances cor-de-rosa, que assina com o pseudônimo de Amanda Gris. Almodóvar disse que a idéia de assinar livros com pseudônimo é costume nesse gênero de romances, mas que também é ideal para ter "a sensação de ter outra vida". "Para mim, uma vida só é pouco, não basta", disse.
Almodóvar disse também que decidiu fazer do personagem Paco, o marido de Leo, um militar, para situar o filme no tempo e dar a "A Flor do Meu Segredo" um caráter realista. Paco trabalha para a Otan e está envolvido com os problemas da guerra na Bósnia. Para Almodóvar, "a Europa mostrou sua incompetência e não sabe o que fazer com a guerra da Bósnia".
"Mas na verdade Paco não está assim tão preocupado com os bósnios. O filme fala da guerra entre homens e mulheres", disse.
O diretor, que se define como "selvagemente romântico", disse que os protagonistas de seus filmes não costumam ter final feliz, no sentido hollywoodiano, mas "sempre acabam melhor do que começaram".
Almodóvar disse que ainda não teve tempo de ver nada de São Paulo, "apenas a vista da janela do quarto do hotel". Mas disse que gostaria de ir jantar em algum lugar frequentado por famílias populares. "Queria conhecer um tipo, ir na sua casa, conhecer seus filhos, saber o que vestem, o que comem, o que gostam e escutar suas conversas. Queria conhecer os amigos dos filhos e conversar com eles", disse o cineasta.

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