São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
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Ciências sociais estão à espera de 'novo FHC'

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU

As ciências sociais vivem a nostalgia dos dias em que o mundo estava a seus pés. Incapazes de formular modelos totalizantes da realidade, elas se fragmentaram, correndo atrás de objetos restritos, que fazem proliferar os estudos sobre negros, mulheres e outras tantas minorias.
A avaliação é do sociólogo Reginaldo Prandi, 50, professor titular do Departamento de Sociologia da USP e membro do comitê organizador da 19ª reunião anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), terminada ontem em Caxambu (MG).
"No fundo, todos esperamos saber quem será o novo Fernando Henrique Cardoso da sociologia", diz Reginaldo. "A minha geração, que está na casa dos 50 anos, foi incapaz de produzir obras que dêem conta da totalidade do processo social", afirma.
Ao contrário da geração de FHC, que tinha a aspiração e a perspectiva de formular uma interpretação geral da formação do Brasil, as gerações subsequentes se especializaram. Em parte, diz Reginaldo, porque o ensaísmo que fez escola desde Gilberto Freyre cedeu espaço à pesquisa acadêmica, mais exigente, mais criteriosa, menos impressionista.
Mas sobretudo, prossegue o sociólogo, porque os grandes modelos explicativos da realidade entraram em crise no mundo inteiro, vítimas das reviravoltas da história e da sua própria pretensão à auto-suficiência teórica.
Apesar da fragmentação -ou por causa dela-, as ciências sociais nunca foram tão prestigiadas no Brasil. Isso é que pensam pelo menos os organizadores da Anpocs, que este ano teve público recorde de 837 inscritos. Reginaldo Prandi, que participou de todos os 19 encontros da entidade, acredita que finalmente a Anpocs consolidou sua vocação original de ser um encontro de âmbito nacional.
Este ano há representantes de quase todos os Estados do país, mesmo que São Paulo e Rio de Janeiro continuem participando com mais de 50% dos inscritos.
É compreensível que seja assim, diz Reginaldo. "São Paulo concentra metade dos doutorados e um terço dos mestrados em ciências sociais de todo o país", afirma.
Outro dado relevante é a presença de 120 estudantes de graduação num encontro destinado a pós-graduados. "Isso mostra que a competitividade hoje começa mais cedo. Nós já sabemos no início da graduação quem vai prosseguir na carreira universitária", explica.
As mulheres, que historicamente constituem maioria na Anpocs, continuaram dominando a última reunião. Foram 483 inscritas contra 354 do sexo masculino. Uma diferença que vem caindo ano a ano e deve desaparecer em breve.

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