São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
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Mesa reuniu intelectuais negros

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)

Pela primeira vez, uma mesa-redonda em uma reunião da Anpocs tinha apenas intelectuais negros. Misturando depoimentos pessoais, descrevendo posições de seus movimentos e refletindo sobre a produção acadêmica, eles procuraram responder à indagação proposta pelo tema: "Afinal, o que querem os negros?"
O debate terminou na madrugada de ontem. O que eles querem é simples: justiça social em um país no qual boa parte da população excluída das benesses da sociedade é negra ou mestiça, além de ser humilhada diariamente pelos meios de comunicação e instituições do Estado e da sociedade civil.
Carlos Benedito Rodrigues da Silva, da Universidade Federal do Maranhão, citou como exemplo dessa luta as dificuldades em mapear e conseguir direitos sobre as terras às populações negras no Maranhão descendentes de quilombolas (escravos fugidos que se reuniam em quilombos).
João Batista de Jesus Félix, aluno de antropologia da USP, mora na periferia de São Paulo e costuma ser um alvo preferencial das atenções da polícia por ser negro.
Maria Aparecida da Silva, do Geledés: Instituto da Mulher Negra, expôs os entraves legais existentes para fazer alguém ser condenado por crime de racismo.
A marcha organizada pelo líder negro americano Louis Farrakhan em Washington foi um dos pontos comentados.
Carlos Benedito acha que a marcha, ou preocupações com o "politicamente correto", são fenômenos americanos, mas reclamou do modo como os meios de comunicação brasileiros enfatizam aspectos polêmicos de algumas posições de Farrakhan -como seu suposto anti-semitismo.
Como era de se esperar, se perguntou o que achavam da idéia do militante homossexual baiano Luiz Mott de que o líder quilombola Zumbi, morto há 300 anos, seria gay. "Somos contrárias a manifestações homofóbicas de setores do movimento negro", diz Maria Aparecida, para quem "aumenta a importância de Zumbi se ele servir de exemplo para outros setores".
Já João Batista acha que Mott criou uma "armadilha" ao movimento negro. "O que nos interessa é a luta de Zumbi contra a opressão, e não o que ele fazia na cama. Por favor, parem com essa discussão e vamos para coisas mais sérias e consequentes."

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