São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Filme revela cem anos de cinema gay

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"Celulóide Secreto" (The Celluloid Closet) é o cult "GLS" da mostra deste ano. Rob Epstein e Jeffrey Friedman devassam as relações entre Hollywood e o homossexualismo.
Falam do alto de uma coleção de Oscars por documentários de temas similares, como "The Times of Harvey Milk".
O filme se baseia no livro homônino do crítico Vito Russo (1946-1990).
São cem anos de cinema americano através do tratamento dado aos personagens homossexuais.
A narração lida por Lily Tomlin cimenta a mais de uma centena de trechos de filmes e as duas dezenas de entrevistas (de Tom Hanks a Gore Vidal).
Tudo começou já com Thomas Edison, ainda na aurora do cinema, num curta homoerótico protagonizado por um casal de homens dançando.
O travestismo deita e rola na era muda -Chaplin à frente. O despudorado e democrático erotismo de comédias e superproduções desperta a fúria reacionária que acaba por encabrestar o cinema sonoro através do código Hays.
Estigmatizado entre as "perversões sexuais", o homossexualismo refugiou-se nas entrelinhas por quase quatro décadas. Gore Vidal conta que o subtexto "gay" da relação entre Ben-Hur (Charlton Heston) e Massala (Stephen Boyd) em seu roteiro para o épico "Ben-Hu"r foi estudadamente ocultado de Heston e desenvolvido com Boyd.
Impossível não lembrar da piada de Quentin Tarantino em "Venha Dormir Comigo" sobre a homofilia em "Top Gun -Ases Indomáveis".
1968 é também aqui a senha da mudança. Logo a versão para cinema de "Os Rapazes da Banda" (1970) traz pioneiramente para o cinema um grupo de homossexuais alegres e coesos.
Nos anos 80, enquanto Hollywood timidamente flerta com o filão ("Making Love", "Personal Best"), uma talentosíssima nova geração (Gregg Araki, Todd Haynes) renova o cinema independente e lança o "queer cinema".
"Celulóide Secreto" termina em chave alta, apesar do recrudescimento obscurantista nos EUA.
O exemplo de "Tomates Verdes Fritos" (1991), em que uma relação lésbica essencial foi extirpada, justificaria um pouco menos de otimismo.
Aliás, um pouco mais de atenção para o homossexualismo feminino não faria nada mal ao documentário. Mas não perca por esperar: a versão lésbica de "Celulóide Secreto" já deve estar a caminho.

Texto Anterior: Homem deve respeitar natureza
Próximo Texto: Loach lembra guerra espanhola
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.