São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
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Loach lembra guerra espanhola

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Há algo de especial num filme que ainda consegue emocionar com um improvisado coro da "Internacional. É "Terra e Liberdade", do britânico Ken Loach ("Chuva de Pedras"), o mais injustiçado concorrente de Cannes-95. Restrições ideológicas e não estéticas, expostas à moda stalinista pelo jurado mexicano Emilio Garcia Rivera, riscaram-no da lista de premiados. Restou-lhe apenas o prêmio da crítica, dividido com "O Olhar de Cada Dia" de Theo Angelopoulos.
Especialista em retratos intimistas dos trabalhadores ingleses, Loach jamais havia realizado um filme tão ambicioso. "Terra e Liberdade" é um épico didático sobre a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), conflito que cindiu a Espanha na antevéspera da Segunda Guerra e condenou o país a quase meio século de obscurantismo franquista. "Não se fala muito sobre a guerra e sobre a grande demonstração de solidariedade de então entre os trabalhadores europeus contra o fascismo", sustentou Loach em Cannes.
Uma estrutura em flash-back procura vincular o passado ao presente. "Terra e Liberdade" se desenvolve a partir da descoberta por uma jovem do heróico passado do avô que acaba de morrer. Ele é David (Ian Hart), em 1936 um jovem comunista desempregado de Liverpool que se engaja na milícia espanhola antifascista.
David testemunha uma das maiores tragédias dos movimentos de esquerda deste século. A frente progressista internacional, a princípio unida na defesa de um governo de esquerda que enfrenta um levante reacionário, vai progressivamente viver uma guerra interna. Muito das histórias de David parecem ter saído das páginas de "Homenagem a Catalunha", de George Orwell.
Uma longa assembléia sobre a desapropriação de terras divide o filme ao meio. A primeira parte é intensa; a segunda, arrastada. Até conhecer a derrota final, David ziguezagueia entre os revolucionários independentes e os ligados à URSS, que controlava o fluxo de armas. A conclusão sacrifica um personagem central. O épico definitivo sobre a guerra civil está novamente adiado.

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