São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
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Nelson Freire lança concertos de Liszt

IRINEU PERPETUO
FREE LANCE PARA A FOLHA

Tem CD de Nelson Freire na praça. Os concertos para piano de Liszt e um recital ao vivo são os discos recém-lançados na Europa do mais tímido pianista brasileiro.
Já estava mais do que na hora. Um artista do nível de Freire não podia ficar só nos álbuns de duo com Martha Argerich, as velhas gravações com Rudolf Kempe, pela CBS, e as raridades de colecionador registradas no Brasil.
Os discos estão saindo por pequenos selos europeus não representados por aqui: o alemão Berlin Classics e o francês Alphée. Em São Paulo, a Balalaika Discos (r. Nova Barão Alta, 30) já se comprometeu a importá-los. Tomara que a iniciativa seja seguida por outras casas especializadas.
Na semana passada, em Paris, era possível ouvi-lo num apinhado teatro dos Campos Eliseos com a inexpressiva Orquestra de Taipé -que consegue, sem nenhum esforço, ser pior do que qualquer orquestra brasileira.
Com a carreira fonográfica, o menosprezo é maior. Freire não tem contrato com nenhum selo, não se preocupa com a reedição em CD dos títulos registrados em vinil pela CBS e só grava se impelido pelas circunstâncias.
Foi o caso do CD da Berlin Classics, o terceiro de uma série de Liszt que o maestro francês Michel Plasson, à frente da Filarmônica de Dresden, está fazendo para o selo alemão. Ele contém os concertos em Mi Bemol Maior e Lá Maior, além da "Totentanz".
O convite para Freire registrar estas peças que tocava há muito tempo veio apenas um mês antes da gravação. O pianista chegou a cancelar alguns compromissos com a finalidade de -entre apresentações do "Concerto nº 2", de Brahms- arrumar dois dias para entrar no estúdio.
A concepção pode desagradar lisztianos de carteirinha. Os tempos adotados por Plasson são extremamente rápidos.
Só que o resultado final acaba sendo empolgante. Começa-se a audição do concerto em mi bemol maior perguntando-se onde aquilo vai parar e, no último movimento, Freire se desimcumbe das dificuldades técnicas com a facilidade com que tocaria uma sonata de Mozart.
O compositor austríaco é, por sinal, o primeiro a ser interpretado em seu CD da Alphée. Trata-se de um recital ao vivo no Roy Thomson Hall. O resultado artístico obtido é impressionante. O CD tem Mozart, Debussy, Albeniz e Villa-Lobos. Mas o forte do pianista é mesmo o repertório romântico, como atestam as interpretações arrebatadas da "Fantasia op. 17", de Schumann, e da "Sonata nº 4", de Skriábin.

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