São Paulo, sábado, 21 de outubro de 1995
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Ingleses roubam noite pop do Festival

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Free Jazz Festival viveu sua primeira noite de baile funk, anteontem, em São Paulo. Despido a caráter, sem mesas e cadeiras, o Palace foi tomado por 3.000 mil pessoas, que o transformaram em um animado salão de dança.
O clímax da noite ficou por conta da banda Brand New Heavies. Com seu repertório dançante, calcado no funk dos anos 70, incluindo algumas pitadas "disco", a banda inglesa foi a favorita da maior parte da platéia.
O segredo para um som tão envolvente passa pelos 10 anos de convivência musical de seus fundadores: o guitarrista Simon Bartholomew, o baterista Jan Kincaid e o baixista Andrew Levy. Juntos, os três formam uma seção rítmica simplesmente telepática.
A falta da sensual N'Dea Davenport, cantora que acompanha a banda desde 91, quase não foi sentida. Com pinta de veterana, a vibrante Ammerah Tatum assumiu o lugar com méritos inegáveis.
Vibrante e carismática, a diminuta vocalista canta com a agressividade de uma rapper, em "Put the Funk Back". Esbanja romantismo, na balada "Forever". Faz a platéia pular ao ritmo "disco" de "Never Stop".
Até mesmo um globo espelhado -típico das antigas discoteques- surgiu ao final do show, arrancando gritinhos e aplausos. Serviu de cenário para a deliciosa "Back to Love", último hit da banda, que também conta com os vocais do baterista Jan Kincaid.
Última atração da noite, o show da banda norte-americana Buckshot LeFonque se mostrou um tanto pálido, comparado com o álbum lançado no ano passado.
Líder não-assumido, o saxofonista Branford Marsalis parece ficar meio escondido atrás dos "samples" e "scratches" do DJ Apollo, ou mesmo das intervenções do rapper do grupo.
Além de um "rhythm and blues" à Grover Washington, a participação de Branford resumiu-se à jazzística "Blackwidow", com direito a uma citação de "India" (de John Coltrane).
Discreta também foi a aparição da cantora Dionne Farris. Fez apenas dois números, exibindo melhor os recursos de sua voz levemente metálica, no blues "I Know What to Do".
O que poderia ser até original no conceito do Buckshot, acaba se mostrando um problema. Misturando hip-hop, jazz, blues, funk, rock, reggae, a música do grupo carece de um mínimo de unidade. Escorrega na diluição.

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