São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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A aliança dos modernos

JANIO DE FREITAS

Os esforços do PPB para que lhe seja entregue o Ministério da Indústria e Comércio tiveram um reforço inesperado: um telefonema de Fernando Henrique, antes de embarcar para os Estados Unidos, ao prefeito Paulo Maluf, pedindo-lhe que determine ao partido o fechamento de questão, ou voto obrigatório, em favor da reforma administrativa.
O pedido foi atendido. E como Maluf não perde oportunidade, a ministra Dorothea Werneck deve ficar prevenida para a provável perda do emprego daqui a algum tempo, substituída pelo deputado Francisco Dornelles. Mas nem todos os deputados do PPB vão aceitar o fechamento de questão.
O PFL, os peemedebistas do centrão, Maluf -são interessantes as alianças buscadas pelo governo que veio "modernizar" o Brasil.

Melhor a emenda
Entre os que se opõem à prorrogação do falso Fundo Social de Emergência e a pretensão do governo de tê-lo por mais quatro anos, o relator pefelista Ney Lopes tem duas propostas razoáveis.
O FSE, que os próprios ministros dizem não ser fundo, nem social, nem de emergência, passaria a chamar-se Fundo de Estabilização Fiscal. Já que o governo não fugiu ao cinismo de explorar a falsa finalidade social para obter a primeira aprovação do fundo, a proposta eliminaria uma partícula da hipocrisia reinante.
E, em vez de quatro, a prorrogação seria por dois anos. O governo alega, embora não tenha conseguido justificar convincentemente a alegação, que o fundo é indispensável para estabilizar a inflação em nível baixo. Mas, como disse inúmeras vezes o ministro Pedro Malan, a consolidação desse nível configura-se no terceiro ano do plano. Faltam menos de dois, portanto, retirando motivo para que o fundo permaneça por prazo tão mais longo.
Além do mais, o fundo consiste, na verdade, de 20% do Orçamento da União para uso à vontade do governo. É muito dinheiro para tanta liberdade. O uso leviano que já se viu do FSE desaconselha a carta branca por longo prazo. A aprovar a prorrogação, o ideal seria fazê-lo por mais um ano, com possível prorrogação. Mas dois ficam no meio-termo, sem curvar-se à inflexibilidade um tanto suspeita do governo.

Indício duplo
O Banco Central está liquidando o patrimônio do Econômico, para refazer-se, o mais depressa possível, de parte dos bilhões que foi pondo lá quando devia ter prevenido o problema com a fiscalização que não realizou. O procedimento atual é interpretado como indício de que o BC não crê em compra do Econômico e avança para liquidá-lo.
A corrente política do senador Antônio Carlos Magalhães já afiou unhas e dentes. Considera-se habilitada a provocar um terremoto no sistema financeiro e no governo, caso se configure a liquidação do banco baiano.

Compra e venda
Resposta de Fernando Henrique, ontem, quando perguntado se havia conseguido converter parlamentares contrários ao projeto de reforma administrativa: "Nem tentei".
Nada como o caráter.

Até
Antes que o governo termine suas elucubrações para mudar a Consolidação das Leis do Trabalho, e ache que o seu Plano Real depende também da redução das férias, parto para as minhas já acumuladas. Bom proveito, leitor.

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