São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Mobilização religiosa leva país a rediscutir imagem de tolerância

O episódio da agressão à imagem de Nossa Senhora Aparecida pelo pastor Sérgio Von Helder, da Igreja Universal do Reino de Deus, mobiliza sentimentos religiosos e levanta a hipótese de uma espécie de "guerra santa" no país. A possibilidade de radicalizações não é descartada por alguns religiosos e estudiosos, como, por exemplo, Leonardo Boff, ex-padre e um dos ideólogos da Teologia da Libertação, tendência católica que enfatiza aspectos políticos e sociais.
"Há o risco de a Igreja Católica cometer o mesmo erro da Universal, ou seja, de ser intolerante", diz ele em entrevista neste caderno.
Para o professor de sociologia da Universidade de São Paulo Antônio Flávio Pierucci nunca houve tolerância religiosa no país: "O catolicismo foi religião oficial desde a colônia, religião de Estado e exclusivista".
Distante das teorizações, mas próximo das disputas por fiéis, o líder religioso Cássio Lopes, presidente da Federação da Umbanda e Cultura Afro-Brasileira, afirma que os confrontos entre a Igreja Universal e os cultos de origem africana podem provocar "derramamento de sangue".
As declarações dos que enfatizam a atmosfera de intolerância contrastam com as palavras mais moderadas de religiosos que apostam no triunfo da convivência pacífica. Caso, por exemplo, do rabino Henry Sobel, que vê no país um exemplo de sociedade predisposta a aceitar diferenças.
O fato é que o Brasil, sempre mais afeito ao velado do que ao revelado, vai, aos poucos, confrontando-se com velhos mitos. A violência urbana pôs em xeque a idéia da cordialidade e a "democracia racial" já não encobre a presença do racismo.
Agora parece ser a vez do mito da tolerância, neste país de sincretismos e duplicidades religiosas.

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