São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Culto à Aparecida começou em 1717

ADRIANO SCHWARTZ
DA REDAÇÃO

O culto à Nossa Senhora Aparecida, o mais importante símbolo religioso brasileiro, tem sua origem em 1717.
Naquele ano, três pescadores descobriram no rio Paraíba do Sul, em um local próximo à região da atual Aparecida (170 km a nordeste de São Paulo), uma imagem de cerca de 40 cm, de cor escura.
Devido a seu aparecimento, considerado milagroso à época, a estátua negra de Virgem Maria logo recebeu um nome: Aparecida.
A imagem ganhou força com o passar dos anos -primeiro para os poucos pescadores a quem ela teria tornado a pesca abundante, em seguida para a comunidade local, até a inauguração da primeira capela, em 1745, quando ocorreram as primeiras romarias.
Dom Pedro 1º, no ano da independência brasileira, em 1822, a proclamou "padroeira do Brasil". Em 1930, a proclamação recebe o aval do papa Pio 11. A pedra fundamental da atual basílica de Aparecida foi lançada em 1946.
É essa trajetória, segundo o padre Jesus Hortal, reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, que explica a sua importância.
"Não se tratou de um movimento de dentro da Igreja para fora dela. A devoção começou de modo popular; ela foi aceita e, posteriormente, incentivada pela Igreja Católica."
Uma das questões mais controversas sobre a imagem é a de sua cor. Não há, ao que parece, dúvida sobre o efeito escurecedor que a longa permanência na água possa ter provocado. A discussão se concentra nos possíveis significados que a cor pode assumir.
Para d. Raimundo Damasceno Assis, secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros, a aparição da imagem "no tempo da escravidãonão deixa de ser um sinal profético para os negros".
E acrescenta: "Foi uma figura decisiva no Brasil para que os homens se reconheçam como irmãos".
O padre Jesus Hortal tem uma visão diferente. "O enegrecimento é circunstancial, não teve nem tem importância", diz.
Já o jornalista Luciano Ramos, autor do livro "A Padroeira - Origem do Culto à Senhora Aparecida" (edições Paulinas), considera que "o fato de a imagem ser negra poderia explicar a sua importância no século 20, mas não na época, em que quase não havia negros naquela região".
Segundo Ramos, a descoberta situa-se historicamente entre duas revoltas contra os portugueses na capitania de São Paulo e Minas (a Guerra dos Emboabas, de 1709, e a de Felipe dos Santos, em 1720). O culto ofereceria aos brasileiros uma "confiança libertária" em relação à ordem política e um incentivo ao sentimento nativista.

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