São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Agressão revigora catolicismo, diz CNBB

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Ao agredir uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, o bispo Sérgio Von Helder, da Igreja Universal do Reino de Deus, acabou fornecendo combustível para os católicos que procuram alternativas para barrar o que classificam de "proliferação das seitas".
A agressão está sendo encarada por setores da Igreja Católica como um fato que deverá facilitar o combate às igrejas evangélicas pentecostais, como a Universal do Reino de Deus.
Para setores do clero, o episódio contribuiu para mobilizar e revigorar o catolicismo no país.
"A agressão teve seu lado negativo mas também um positivo, porque provocou uma reação positiva da população", disse.
O secretário-geral da CNBB afirmou que a agressão à Nossa Senhora serviu para "renovar o ardor" evangelizador dos católicos.
"O gesto provocou repulsa não apenas nos praticantes, mas também naqueles que estão afastados de Deus. Provoca uma reação não-violenta e positiva", disse.
Para d. Rafael Llano Cifuentes, bispo-auxiliar da Arquidiocese do Rio, a agressão facilita o trabalho dos católicos "porque prejudica o deles", afirmou, em referência à Igreja Universal.
Segundo Cifuentes, a partir do gesto de Von Helder, muitas pessoas descobriram "uma religiosidade que estava sepultada, nos subterrâneos da consciência".
"Houve pessoas que vieram a mim chorando por causa daquela agressão", afirmou.
Lideranças católicas demonstraram que não pretendem deixar a agressão cair no esquecimento.
O arcebispo do Rio, dom Eugênio Sales, aventou a possibilidade de promover um grande ato de desagravo a Nossa Senhora.
A CNBB havia limitado sua reação a uma nota divulgada no dia seguinte à agressão.
O combate aos evangélicos pentecostais e aos movimentos religiosos de origem oriental é uma das maiores preocupações da Igreja Católica no Brasil e na América Latina.
"Não se trata de combater, de atacar as seitas, mas de afogar o mal na abundância do bem, difundir a luz para diminuir as trevas", disse dom Rafael, que participou do encontro.
Para ele, é essencial que a Igreja Católica enfatize seu discurso espiritual, que supra "a fome e a sede de Deus".
"Não podemos ter um discurso sócio-político, que não é entendido pelo povo", afirmou.
Sob esse ponto de vista, ele classifica o movimento Renovação Carismática Católica de "um bom caminho".
Os carismáticos têm práticas que os aproximam dos evangélicos pentecostais. Eles privilegiam as manifestações do Espírito Santo e dons como os de cura.
Assessor da CNBB para assuntos ecumênicos, o padre Gabrielle Cipriani afirmou que o fundamental é dar maior espaço aos leigos -católicos que não fazem parte da estrutura da igreja.
Ele admite, porém, que isso pode gerar choques. "A presença ativa do laicato vai alterar forças internas, vai transformar estruturas eclesiásticas em um processo dialético", previu.
Para Cipriani, a Igreja Católica deve demonstrar capacidade de dialogar "com seu interior".
Segundo ele, é importante a igreja aproveitar o episódio para aprofundar o diálogo com outras religiões e culturas.
"Não podemos fazer disso uma cruzada. Em um mundo que tem um respeito absoluto pela liberdade, o único caminho possível é o do diálogo, um diálogo desafiador", disse.
"O papa, em um de seus documentos, pede a cristãos de outras igrejas sugestões sobre como deve ser exercido o papado."
(FM)

Texto Anterior: Boff vê risco de católicos reagirem com intolerância
Próximo Texto: Documento critica o 'consumo' de religiões
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.