São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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DEPOIMENTO

"Não trabalho fora, só dentro de casa. Meu marido nunca me deixou trabalhar, desde que nos casamos. Antes, eu era empregada doméstica. Desde os 15 anos, trabalhava em casa de família, ganhava um salário mínimo. Casei com o Célio quando tinha 26 anos. Fui casada com um outro homem antes. Tive um filho com ele. Larguei porque ele não queria trabalhar. Aí conheci o Célio. Logo estávamos morando juntos e ele pediu para eu largar o trabalho. Um tempo depois fiquei grávida da Ana. Depois vieram os outros. Contando com o filho do primeiro casamento já são sete e estou esperando mais um. Há dois anos, minha mãe teve um derrame e parou de andar. Agora, não dá para trabalhar mesmo. Parece castigo tanto filho assim. Eu não queria, mas por ele teríamos dez. Ele acha que eu só devo me ocupar das crianças e da casa. Agora não vou mais ter filhos. Ele vai operar. Tenho esperança de voltar a trabalhar quando todos estiverem na escola. Mas acho difícil. Ele sempre diz que ele trabalha e eu cuido da casa. Se trabalhasse, o dinheiro ajudaria as crianças. Depois do meu último parto, fiquei doente e ele colocou nossos filhos na Febem. Ficaram dez meses lá. Saíram na semana passada e agora vamos receber dinheiro para ajudar a criá-los. Vai ser muito bom. Com a primeira parte já comprei tomate, cebola, legumes e roupas. Não sei quanto meu marido ganha por mês. Queria ter meu dinheiro. Estudei até o colegial. Enquanto as crianças ficaram na Febem, voltei a estudar, mas já parei. Se tivesse que escolher uma profissão, não saberia. Seria doméstica mesmo."
Eliane Clementino de Souza, 32.

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