São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desemprego aumentará nos próximos anos, diz Delfim

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista e deputado Antonio Delfim Netto (PPB-SP) afirma que o desemprego vai aumentar no Brasil nos próximos anos, caso o governo não reformule as políticas econômica e monetária.
"O crescimento econômico anual entre 4% e 5% indicado no Plano Plurianual não é suficiente para absorver o estoque de desempregados que já existe, mais a nova mão-de-obra", diz Delfim.
A equação do deputado é a seguinte: para resultar em aumento real de emprego, o PIB (Produto Interno Bruto, que significa toda a riqueza produzida pelo país) deveria crescer mais do que a soma da oferta e da produtividade.
A produtividade resulta principalmente do avanço tecnológico -o que quer dizer produzir mais com menos mão-de-obra- e da redução dos custos de produção. Com um crescimento do PIB acima de 5% seria possível reverter a tendência de aumento do desemprego, afirma Delfim.
O governo argumenta que foi necessário frear o crescimento econômico para evitar que os aumentos da atividade e do consumo pusessem em risco o controle da inflação.
O ministro Pedro Malan (Fazenda) afirmou, ao explicar a desaceleração econômica, que "dados da indústria mostravam crescimento de 10% do PIB no primeiro trimestre do ano", sendo que as vendas cresceram 28%.
O Plano Plurianual (PPA) do governo é uma espécie de plano de vôo para os próximos quatro anos (1996-1999) e serve de base para o Orçamento anual.
O governo argumenta que seu Plano Plurianual "acena com metas de crescimento moderado, porém consistente", de acordo com o documento apresentado no mês passado por FHC.
Segundo o documento, "os dois primeiros anos do PPA serão um período de consolidação do ajuste macroeconômico e de implantação das reformas estruturais, com vista à estabilização da moeda e à retomada sustentada do crescimento".
"As restrições ao crescimento acelerado existem, mas não podemos nos conformar com elas. Foram eles mesmos que as criaram, não vieram de Marte", diz Delfim.
Para o deputado, a economia brasileira teria tudo para caminhar para o pleno emprego. Mas o governo deveria promover o equilíbrio fiscal e afrouxar a política monetária (basicamente, reduzir os juros).
O economista e ex-deputado Aloizio Mercadante (PT) concorda que a tendência é de agravamento do quadro de desemprego, mas discorda que crescimento econômico signifique, por si só, aumento de emprego.
"O país não só precisa de taxa de crescimento mais acelerada, como de política de emprego. Emprego não pode mais ser subproduto do crescimento", diz Mercadante.
Pedro Paulo Martoni Branco, economista e diretor-executivo da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), também vê riscos de o desemprego piorar.
"Se o crescimento anual da economia é de 5% e o da população de 2% (a média da década de 80 foi de 1,93%, segundo o IBGE), mais o crescimento da produtividade, a tendência é o desemprego estrutural e quantitativamente aumentar", afirma Branco.
Para Branco, 5% é uma boa taxa de crescimento. "Mas o crescimento do emprego é agredido pela reestruturação da tecnologia", diz.
José Pastore, professor da USP, vê mais problemas no desemprego estrutural -provocado pela substituição da mão-de-obra por tecnologia- do que no conjuntural.

Texto Anterior: Empresários têm confiança no Plano Real
Próximo Texto: Trabalho informal atinge 55%
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.