São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Desemprego é maior preocupação de centrais

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Redução da jornada de trabalho com redução de salários, flexibilização da jornada, contrato por tempo determinado sem registro em carteira, redução dos encargos.
Essas propostas, consideradas "empresariais" há não muito tempo, dariam verdadeiros arrepios aos sindicalistas em 78. Hoje, porém, elas são defendidas por alguns e foram até adotadas com aprovação de assembléias.
"Na defesa da existência do emprego e da produção, acabamos um vestindo a camisa do outro", afirma Ariovaldo Lunardi, coordenador do grupo 19-3 da Fiesp. Ele vem propondo flexibilização da jornada de trabalho e redução de encargos aos metalúrgicos há anos, sem sucesso.
Neste ano, Lunardi criou grupo de trabalho com os metalúrgicos da Força Sindical que pedem, em sua campanha salarial, jornada flexível de trabalho de 40 horas semanais e contrato por tempo determinado, sem registro em carteira, para trabalhadores com menos de 18 e mais de 45 anos.
"Com a abertura, em 90, perdemos muitos postos de trabalho, mas achamos que a coisa estava resolvida. Mas o desemprego continua a aumentar, mesmo no Plano Real. Precisamos lidar com isso", afirma Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (Força Sindical).
Segundo ele, os próprios trabalhadores, mesmo com o sindicato contra, têm aprovado em assembléias propostas para manter o emprego consideradas "pouco ortodoxas". Foi o caso na Ford do bairro do Ipiranga, onde, apesar de posição contrária do sindicato, os trabalhadores aprovaram o "bolsão" -600 metalúrgicos ficam em casa, recebendo parte dos salários, à espera da retomada da produção. Se não houver retomada até janeiro, os 600 trabalhadores ou parte deles serão demitidos.
Na MWM, "uma das nossas bases mais radicais", foi aprovada na semana passada a redução de jornada para 40 horas semanais com redução de salários, tudo para evitar demissões, diz Paulinho.
O sindicato, conta ele, prepara até campanha contra o serviço militar obrigatório, para tentar estimular o emprego entre os jovens. "As empresas evitam contratar jovens pois têm de pagar FGTS por um ano para os alistados", diz.
O presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, discorda da proposta de contrato temporário sem registro em carteira.
"Mas é inegável que o desemprego é a nossa principal preocupação hoje e temos de buscar saídas criativas para enfrentá-lo."
Vicentinho considera que a proposta de sindicato orgânico, aprovada recentemente em plenária nacional da CUT, será uma boa forma para organizar trabalhadores terceirizados nos processos de reestruturação das empresas.
O sindicato orgânico -ligado à estrutura da CUT- permitirá que os terceirizados escolham a entidade à qual queiram pertencer, diz Vicentinho. Hoje, quando um trabalhador é terceirizado, muitas vezes perde salário, direitos e, como não pertence mais a determinada categoria, fica sem sindicato.
Com o sindicato orgânico, argumenta Vicentinho, as 30 categorias existentes em uma montadora, por exemplo, passarão a ser representadas por uma só comissão sindical de base do sindicato que escolherem. "Os trabalhadores terceirizados, empregados por fornecedores, também poderão integrar essa comissão", diz.
"O monopólio do sindicato sobre a sua base passará a ser o monopólio da base sobre o sindicato", diz José Lopez Feijóo, presidente da CUT Estadual SP.
(CPL)

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