São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Encurtamento nos FIFs é transitório, diz governo

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central está atento ao fenômeno de encurtamento dos prazos das aplicações financeiras, registrado nas duas primeiras semanas deste mês.
Para o diretor de Política Monetária do BC, Alkimar Moura, a cautela dos investidores é "natural" nesse momento de transição.
Na conversão para os fundos de investimento financeiro (FIFs), os bancos impuseram aos clientes o alongamento para 60 dias, pois era mais vantajoso, comenta o diretor do BC. Agora, quem dá as cartas são os investidores.
"A mudança nos fundos é muito recente e os aplicadores preferem parar para pensar antes de decidir em que fundo deixarão o seu dinheiro. Enquanto isso, ficam no curto prazo, embora tenham uma rentabilidade menor", diz.
Ele observa que a maior parte dos novos recursos está sendo aplicada pelas empresas, que precisam manter a liquidez diária devido ao seu fluxo de caixa.
Para o diretor do BC, os investidores tendem a alongar suas aplicações com o tempo, à medida que tenham mais confiança no Plano Real e na estabilidade econômica.
"O alongamento não depende das novas regras dos fundos baixadas pelo BC. Ele é uma consequência da credibilidade na manutenção dessas regras e da inflação baixa" afirma Alkimar.
Na realidade, o que está ocorrendo nesse momento é uma separação entre a poupança financeira de fato e o dinheiro de curto prazo que buscava proteção contra a inflação nos antigos fundos.
Essa é a análise do diretor de Política Econômica do BC, Francisco Lopes. Fenômeno, aliás, descrito por John Maynard Keynes, economista inglês, em seu Tratado sobre a Moeda, de 1930, lembra Lopes.
"O dinheiro das transações tinha o melhor dos mundos, com alta liquidez e juros abundantes. Só agora vamos saber, de fato, quanto temos de poupança interna de longo prazo", afirma.
Lopes acrescenta que hoje os investidores estão pagando um preço alto pela aplicação do dinheiro das transações no curto prazo. É que os fundos de curto prazo sofrem recolhimento de 40% de seus recursos a título de depósito compulsório não-remunerado no BC.
Dentro do novo cenário, portanto, há um ganho fiscal importante para o governo, que recolhe recursos sem precisar pagar por eles. É o chamado ganho de "seignorage", que compensa parte dos juros altos que o governo paga em seus títulos públicos.
(MG)

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