São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995 |
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Jogar no ataque é uma questão cultural
ALBERTO HELENA JR.
Pois são essas coisas que estão em jogo hoje, quando Santos e Cruzeiro começarem a correr atrás da bola -uma forte expectativa de muitos gols e uma vaga lembrança dos embates antológicos desses dois times nos anos 60. O curioso é que boa parte da torcida peixeira, que vive pedindo a cabeça do técnico Cabralzinho desde o dia em que pisou na Vila, é exatamente aquela parcela que se embala nas doces lembranças de um Santos risonho e franco, capaz tanto de meter 5 a 2 num Benfica de Eusébio quanto de levar de 6 a 4 do velho e modesto lanterna Jabuca. Ah, mas os tempos são outros, haverá de retrucar o sensato cavalheiro que porta, no bolso, o celular da moda e, na mão, a maletinha do notebook de última geração. São tempos em que se premia com três pontos o vil 1 a 0 nem que seja obtido de forma irregular e ao cabo de entediante jornada. É mesmo? Então, responda-me depressa, sem meandros ou quebradas, por que o Ajax respira o ar rarefeito do topo do Olimpo do futebol mundial, no centro da modernidade futebolística que é a Europa, massacrando todos os que se lhe antepõem, numa enxurrada de gols, sem tomar nenhum? Trata-se de alguma mágica cibernética, ou seu treinador descobriu a fórmula amarelecida de um druida perdido no tempo? É apenas uma questão de cultura. Pegue-se o exemplo do Milan de Capello. Lá, há um grupo de atacantes que, se reunidos numa mesma equipe e devidamente instruídos, haveria de ser um terror. Refiro-me, claro, a Donadoni, Baggio, Weah, Boban e Savicevic. Aliás, quando Capello teve o rasgo de coragem de partir para um esquema similar, contra o Barcelona, se não me engano, há um ano, foi um show. Mas sabe quando repetirá tal gesto? Nunca. Porque é uma coisa cultural, profunda, impregnada na alma do futebol italiano, o medo de arriscar. Já o holandês, ao contrário: é, antes de tudo, um aventureiro, um alegre aventureiro, que se compraz em navegar no mar das incertezas. A propósito, Cruyff, na TV, resumia a história: "Prefiro perder dando espetáculo do que ganhar mediocremente. Isso é próprio do povo holandês". E nós, com nossos mulatos e negros geniais, desatados, inventivos, o que somos? Com quem mais, culturalmente, nos assemelhamos nesses campos da bola? Com as rígidas, sólidas e implacáveis legiões romanas, que servem de inspiração a Capello. Cá entre nós, a imagem do diáfano, espectral e arrebatador "Holandês Voador", singrando os mares e a imaginação das pessoas, solitário e eterno, me seduz muito mais. A propósito, Carlos Alberto Silva, bote o Nílson nesse time, please. Dois volantes como Mancuso e Amaral bastam para fazer o trabalho braçal. O resto tem de criar, atacar e atacar. E atacar. Texto Anterior: Palmeiras e Inter-RS fazem o clássico dos 'desiludidos' Próximo Texto: O futuro Índice |
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