São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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O futuro

SÍLVIO LANCELLOTTI

Nesta coluna, em inúmeras ocasiões, fui um crítico ferrenho de João Havelange, presidente da Fifa. Depois do episódio em que Havelange retirou Pelé do sorteio dos grupos da Copa de 94, fiz questão de chamá-lo de Jean, uma maneira de distanciá-lo do Brasil.
Reconheço, no entanto, sua competência. Não discuto: Havelange é um líder. Aliás, Havelange se mostra mais forte sob pressão, como agora acontece no futebol.
No próximo dia 11 de dezembro, em Paris, numa reunião do comitê executivo da Fifa, Havelange deverá dilapidar de vez os projetos do sueco Lennard Johansson, presidente da Uefa, a quem não hesitou em acusar, pessoalmente, de "desleal", dias atrás.
Bom de grito, mas péssimo nas articulações, o sueco cada vez mais se desmoraliza e enfraquece.
Dos cinco pontos que apresentou, no "Projeto Visão", aos colegas de outras entidades continentais, dois foram esmagados por Havelange e aliados: a rotação quadrienal na Fifa e a fusão das confederações das três Américas.
Sobram três pontos ao debate: a rotação das sedes da Copa, o aumento das cadeiras da Europa no executivo da Fifa, hoje 8 num total de 21 lugares, e a concessão de mais autonomia às confederações.
Dificilmente Johansson conseguirá implantar os objetivos e se manter como candidato contra Havelange em 98. Tanto que a Uefa pensa numa alternativa, de novo o italiano Antonio Matarrese, hoje um dos vices da Fifa, como adversário do brasileiro.
Dias atrás, desesperado com os fracassos sucessivos, Johansson se encontrou secretamente com Matarrese, num hotel de Zurique (Suíça), para pedir um sacrifício: repetir a sua ousadia de outubro de 1994 e desafiar Havelange.
Matarrese argumentou que, naquela ocasião, a sua candidatura se esfumou bem depressa porque a própria Uefa não soube coordenar os apoios a sua disposição.
Johansson rebateu que, então, havia pouco tempo para as articulações necessárias e que, hoje, Matarrese tem, ao menos, três anos de prazo a sua frente.
O italiano não deu uma resposta definitiva. Vive momentos complicados dentro de seu país, incapaz de conter a fermentação de uma oposição a sua manutenção no poder da federação da Bota.
Sabe que é presidente, mas não líder. E sabe, também, que a angústia de Johansson pode levar a Europa a uma posição de alheamento maior na cúpula da Fifa. Terrível dilema. Talvez insolúvel.

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