São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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A doença das minas

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

As minas explosivas terrestres deixaram de ser algo que interessa somente aos militares para se transformar em um problema de saúde pública. Segundo uma estimativa citada em editorial da revista médica britânica "The Lancet", a cada ano minas enterradas pelo mundo fazem 26 mil novas vítimas, entre mortos e feridos.
O problema está sendo encarado como uma epidemia. E como acontece com muitas doenças letais, como a malária ou a Aids, as principais vítimas estão em países pobres. O efeito das explosões não afeta apenas a pessoa que pisa na mina. É como se o próprio chão estivesse doente.
Minas espalhadas pelos campos impedem a prática da agricultura e causam êxodo rural. Minas nas estradas impedem o transporte de mercadorias e pessoas, paralisando a economia.
O sistema de saúde desses países, já sobrecarregado, entra em colapso. Uma vítima de mina antipessoal costuma perder a perna e exige mais transfusões de sangue que a média dos acidentes. Aumenta a demanda por médicos especializados, difícil de ser atendida em um país pobre.
Uma pesquisa recente feita em Moçambique, que só recentemente saiu de uma guerra civil, mostra que as estimativas são pouco confiáveis, mas que o problema tende a ser maior do que o pensado.
"Nós descobrimos muito mais casos do que aquilo que havia nos registros dos hospitais", diz Barbara Ayotte, da organização Médicos pró-Direitos Humanos (Physicians for Human Rights), uma dos sete autores do estudo, publicado na "The Lancet".
O estudo foi feito nas províncias de Manica e Sofala, que ficam ao longo de uma área muito minada, por ser próxima de uma estrada de ferro estratégica. Foram feitas entrevistas com pessoas da região em busca de casos não-relatados.
Os números indicaram que em Manica houve em média 8,1 vítimas para cada mil pessoas e, em Metuchira (província de Sofala), o número chegou a 16,7 vítimas por mil habitantes.
"Por questões de segurança nossa equipe se limitou a áreas com estradas já desminadas", diz Ayotte, o que indica que, em alguns locais, até esses números serão superados.

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