São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Crítico aponta "abuso" do concreto

MARCELO DE SOUZA
DA REDAÇÃO

O crítico de arte norte-americano Michael Brenson, uma das estrelas do seminário sobre arte pública realizada em São Paulo, disse que se impressionou com a quantidade de concreto da cidade.
"Esperava ver a exuberância verde de um país tropical", disse, meio desapontado.
Ex-crítico do "New York Times", onde trabalhou por 9 anos, Brenson fez um passeio com a organização do evento pelos locais com obras de arte nas ruas.
Sua impressão não foi das mais animadoras. Pelo menos não em relação à arte pública mais tradicional. "Vi esculturas que me pareciam obras de museu", diz ele.
"A arte pública deve ter uma conexão com a vida do homem na rua, e frequentemente nem parece arte no sentido convencional."
Brenson faz um contraponto em relação à arte em São Paulo. "A energia e o dinamismo das pessoas significam grandes possibilidades para o futuro."
Ele afirmou que grandes desfiles populares, como o Carnaval, talvez possam ser o ponto forte da arte pública no país.
Durante a palestra que deu em São Paulo, o crítico fez um relato de como os Estados Unidos -mais especificamente Nova York, cidade onde ele nasceu e vive até hoje- tratam da arte de rua.
O ponto principal citado por ele é a "missão" que os artistas têm em retratar a população -ou suas preocupações e questionamentos- na arte que se quer instalar em determinada região.
Em Nova York, há uma preocupação prática neste sentido, com conselhos de representações que discutem com o artista antes que a obra seja executada.
"Há até uma postura radical em relação a isso. Se as pessoas não gostam de determinada obra de arte na região em que vivem, elas simplesmente a explodem."
Brenson concorda que é difícil para o artista lidar com esses conceitos, muitas vezes abstratos demais para serem discutidos com um conselho. Mas ressalta que a arte pública nos Estados Unidos evoluiu muito.
"Na década de 60, por exemplo, a arte pública era muito mais objetiva e retratava o movimento de feministas e dos pacifistas, por exemplo", explica.
"Hoje em dia, a arte que está nas ruas tem muito mais a função de retratar uma realidade aparentemente indizível e invisível do lugar, tornando-se assim mais artística e interativa."

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