São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Veja a arte que está nas ruas de SP

MARCELO DE SOUZA
DA REDAÇÃO

Andar por São Paulo em busca da arte que está nas ruas pode ser uma bela experiência. Abstraindo o caos do trânsito e dos prédios, pode-se descobrir esculturas, monumentos, obras de arte e jardins ornamentais.
É possível contemplar desde monumentos históricos até obras menos ortodoxas -como é o caso do Monumento das Ondas, de Tomie Ohtake, na av. 23 de Maio, para a comemoração dos 80 anos da imigração japonesa no Brasil.
A arte pública é mais dinâmica do que a que está nos museus e abre espaço para muitas discussões. Na semana passada, no Sesc Paulista, especialistas brasileiros e norte-americanos reuniram-se para falar do tema.
É a primeira vez que o assunto ganha debates em São Paulo -cidade onde, chegou-se à conclusão no seminário, a arte pública quase não tem planejamento e fica diluída no contexto urbano.
Algumas obras, no entanto, respeitam o conceito básico de arte pública, que é o de interagir com o espaço onde são instaladas.
Exemplo disso é o projeto chamado de Arte no Metrô, responsável pela instalação de 76 obras de 42 artistas nas estações do metrô.
Uma das obras -"O Ventre da Vida", da artista Denise Milan- traz um cristal iluminado. A instalação da escultura na estação Clínicas, onde se concentram vários hospitais, não foi aleatória. "Não é simples ornamento. Aquelas pessoas com problemas de saúde têm uma relação vital com a obra", diz a artista.
Outras obras de destaque no metrô são de Tomie Ohtake, na estação Consolação; de Ari Perez, na Clínicas; e de Antonio Peticov, na República.
A Praça da Sé tem 16 esculturas, que vêm sendo instaladas desde 1979. Um dos destaques é a escultura chamada Guaratuba, do artista plástico Marcelo Nitsche.
O Jardim das Esculturas do Museu de Arte Moderna, no parque Ibirapuera, é um dos marcos na arte pública de São Paulo. Com 15 esculturas modernas e projeto paisagístico de Burle Marx, o jardim merece uma visita.
A variedade de formas também revela um dos aspectos negativos da arte que se faz nas ruas de São Paulo.
Segundo a crítica de arte Maria Alice Milliet de Oliveira -ex-diretora do Museu de Arte Moderna e uma das palestrantes do seminário no Sesc-, o Jardim das Esculturas é um "samba do crioulo doido".
"Não houve planejamento ao se dispor as esculturas e hoje elas convivem de forma desarmoniosa", diz ela.
Maria Alice estende o problema para todo o parque Ibirapuera. "Cada prefeito instala uma obra diferente lá. Convivem no parque uma escultura de Pedro Álvares Cabral e outra de Ayrton Senna."
A crítica Aracy Amaral, que também falou no seminário, vai mais longe e diz que a arte de toda a cidade sofre de desorganização.
"Além de termos uma mistura cultural grande, temos uma tradição cristã individualista que não possibilita à comunidade se organizar para a busca de identidade."
Aracy cita o protestantismo dos Estados Unidos como um dos motivos para que a arte das ruas do país represente mais a população (leia texto abaixo sobre a experiência norte-americana).
Aracy ressalta que a arte pública no Brasil está ligada basicamente a datas comemorativas e a homenagens. "É como se o país se embelezasse para uma grande festa."
São Paulo não fica de fora. O mais antigo monumento da cidade -A Pirâmide do Piques, projetada por Daniel Pedro Muller e construída em 1815 no Largo da Memória- é homenagem ao triunvirato que governava a cidade.
Outra homenagem -desta vez à fundação da cidade- levou à construção da escultura Glória Imortal aos Fundadores de SP, do italiano Amadeo Zanibra. A obra, que está no Pátio do Colégio, é um dos marcos da cidade.
O próprio Parque do Ibirapuera foi construído para comemorar os 400 anos de São Paulo, em 1954. O Monumento às Bandeiras, criado por Victor Brecheret, foi inaugurado na mesma ocasião.
Ainda no Ibirapuera, destaca-se o Obelisco, com seus 72 metros de altura -homenagem do italiano Galileo Emendabili aos soldados da revolução de 32.
Outros exemplos são o Monumento à Independência -homenagem aos cem anos de Independência- do italiano Ettore Ximenes; e o Monumento a Ramos de Azevedo, criado por Galileo Emendabili em 1934.
Numa fase posterior à série de homenagens e comemorações, São Paulo ganhou de presente do artista Di Cavalcanti um painel, instalado no Teatro Cultura Artística, na r. Nestor Pestana (zona central) na década de 40.
Outros quatro painéis -de Clovis Graciano, inaugurados em 1969- contam a história da cidade. Eles podem ser vistos ao longo da av. Rubem Berta (zona sul).

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