São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995 |
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Saddam Hussein cria impasse no Iraque
JOÃO BATISTA NATALI
Não exporta mais praticamente petróleo e está de relações rompidas com seus vizinhos árabes. Derrotado na Guerra do Golfo, Saddam entrou na linha de mira dos Estados Unidos. Mas, no domingo passado, recebeu 99,96% dos votos para um mandato presidencial de sete anos, num referendo sem as mínimas condições de democracia eleitoral. Com Saddam, o país está por enquanto numa situação de impasse. Além de ter sido pouco democrático, o referendo levanta, em termos de política iraquiana, mais perguntas que respostas. A estratégia americana de eliminar com o embargo seu grande adversário no Oriente Médio ainda não funcionou. Há também dúvidas sobre a viabilidade de a oposição no exílio se tornar uma alternativa de poder. Entre agrupamentos curdos, fundamentalistas islâmicos, marxistas expurgados do Baas (governista) ou liberais de boa vontade, haveria, segundo estimativas divergentes, de 70 a 120 siglas em processo de antropofagia mútua. As dissidências paralisam em Londres o INC (Congresso Nacional Iraquiano), que reúne as mais importantes entre elas. Alguns especialistas argumentam haver um outro complicador. Saddam, por mais sanguinário e impiedoso que seja, de certo modo tranquiliza o mundo árabe. Ele mantém tapado, via repressão, o caldeirão étnico e religioso. A maioria xiita (55% da população) tem afinidades potenciais não apenas com a República Islâmica do Irã, mas também com os xiitas da Arábia Saudita, espalhados sobre as jazidas de petróleo de interesse direto dos norte-americanos. Os xiitas do sul tentaram se rebelar, em 1991, após a derrota de Saddam (que se origina do grupo muçulmano rival, o dos sunitas) na Guerra do Golfo. Foram duramente reprimidos. Pertencem a essa comunidade -e é uma informação de confirmação impossível- os 8.000 "desaparecidos" em Basrah e os 27 mil em Bagdá. Os desaparecimentos não pouparam nem sequer xiitas que também eram quadros intermediários do partido oficial. Ainda esta semana, o rei Hussein, da Jordânia, pôs o dedo na ferida: sugeriu publicamente que Saddam transforme o Iraque numa federação de regiões, cada uma com identidade religiosa própria. Saddam procura manter a aparência de institucionalização do regime nascido do golpe de 1968, que depôs Abdul Karim Kassen. Anunciou quarta-feira a convocação, para dezembro, de eleições que renovarão o Parlamento unicameral. É possível que outros partidos, além do Baas, sejam autorizados a apresentar candidatos. Mas seria um arremedo de pluralismo, sem maior analogia com o que existe, entre os países árabes, no Líbano ou na Jordânia. Texto Anterior: Rebeldes massacram 66 no Sri Lanka; Paris vai ter latas de lixo antiexplosivas Próximo Texto: Seu filho já pensou em suicídio? Índice |
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