São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Economia atordoante; Sociedade encastelada; Estabilidade do funcionalismo; Revolta dos não-fumantes

Economia atordoante
"Muito bem colocada por Marcelo Coelho a aparente infração às leis de mercado pela nossa economia: mais que isso, no Brasil a lei de oferta e procura funciona muitas vezes ao contrário. Exemplo? Perto de casa havia um vídeo de grande porte; quando outro maior se instalou o primeiro nivelou o preço pelo segundo, que era 40% mais alto. Oligopólio de vídeos? Será que há uma lei não-nominada do assalto a mão desarmada? No aeroporto de Guarulhos você paga um mínimo de R$ 9 de estacionamento! Mas pode ficar até três horas... Alguém já pensou que ficar rodando em volta do aeroporto a 15 km/h nesse período não custa mais que R$ 3? Alguém já reparou no preço do táxi lá no aeroporto? Mais caro que em Nova York. Mas o engraçado é que no aeroporto do Galeão você paga por um táxi de cooperativa que deixa seus carros naquela cor tradicional do Rio 1/3 do preço das outras cooperativas que pintam seu carro de cor diferenciada. A classe alta baixa está atordoada. Ninguém ainda pensou em abrir um escritório de dicas de como se movimentar nessa selva?"
Hans Ingo Weber (Campinas, SP)

Sociedade encastelada
"Fui vítima de uma bala perdida no último dia 7, em Laranjeiras (RJ). Quero elogiar o bom atendimento que recebi de dois policiais lotados no Palácio Guanabara. Na minha opinião, uma das saídas para o problema da violência nas grandes cidades depende, evidentemente, de mais policiais, mais bem remunerados e mais preparados, como estavam os que me socorreram. Depende, também, da condenação sem contemporização dos que continuam a assaltar, vender drogas e assassinar. Mas isso não é tudo. A sociedade está sendo bombardeada pela nova era do individualismo. Não há como viver tranquilamente se não existe preocupação social. Uma sociedade individualista repleta de excluídos, onde cada qual cuida apenas de seus interesses, certamente nos levará a retroceder. Afinal, qual a diferença entre os grandes condomínios de luxo e os castelos medievais, onde os nobres se protegiam de seus inimigos e do restante da população?"
Diomedes Cesário da Silva (Rio de Janeiro, RJ)

Estabilidade do funcionalismo
"A esquerda corporativa -afirma Josias de Souza- troca alianças de casamento com a direita clientelista visando manter a estabilidade do funcionalismo, esta, afirmo, o maior acinte à qualidade dos serviços públicos. De resto, os esdrúxulos e mentirosos nubentes pretendem que acreditemos que a finalidade do ato é a defesa do funcionalismo. Nossa nação está mais que perdida: em seus campos, os sem-terra; em suas cidades, os sem-teto; em seu Congresso, os 'sem-vergonha'."
Lázaro de Melo Vieira (Itapetininga, SP)

"O governo federal, na sua ânsia inconsequente de promover todas as reformas no país no exato espaço de tempo da sua gestão, atropela o processo de negociação com o Congresso Nacional e parte para o corpo-a-corpo da intimidação lembrando aos parlamentares clientelistas e fisiológicos que a caneta que nomeia é a mesma que exonera. Como cidadão brasileiro alfabetizado e dirigente classista responsável pela condução dos interesses profissionais de quase 12 mil companheiros no meu Estado sinto desprezo e vergonha por ter no Brasil um governo descomprometido com as causas e interesses nacionais e um Congresso com uma maioria parlamentar inteiramente vendida e uma caneta que está mais a serviço dos poderes políticos e econômicos internacionais e menos subordinada aos relevantes interesses da pátria."
Mauri Vieira Costa, presidente do Conselho Regional de Administração e do Sindicato dos Administradores no Estado de Pernambuco (Recife, PE)

"Já foi dito em um de nossos períodos ditatoriais que o problema maior da ditadura não é o ditador, mas o guarda de quarteirão. Logo, se o presidente da República, que é o servidor público mais importante do país, assume uma postura ameaçadora, bem ao estilo do que há de mais arcaico na política brasileira, o que não será feito pelos administradores públicos em geral uma vez terminada a estabilidade do funcionalismo público?"
Carlos Bianchi (São Bernardo do Campo, SP)

"É um absurdo que o nosso presidente ameace os parlamentares que pretendem votar contra os projetos do governo. O presidente, como bom democrata, deveria saber que os parlamentares não representam o governo, mas sim os eleitores, a quem eles devem satisfações. Se os eleitores são contra que seus deputados votem pela extinção da estabilidade do funcionalismo, seja certo ou seja errado, é a vontade do povo. E quem é o presidente para dizer que o povo está errado? Afinal de contas, quem manda em um país não é o presidente e nem são os deputados, que são meros representantes dos donos deste país: o povo."
Gilberto Rios (São Paulo, SP)

"O equívoco político de invocar Lênin na atual discussão que se trava em torno dos direitos adquiridos, como a estabilidade dos servidores públicos, é diretamente proporcional ao engano jurídico de pensar que o legislador ordinário pode desdizer a Constituição ao sabor do momento. Na elaboração da 'Carta Política' de 1988 já não tivemos ruptura de regime e nem se configurou um autêntico poder constituinte originário, mas obtivemos inequívoco avanço em termos de aperfeiçoamento do ordenamento jurídico, inclusive quanto à legitimidade, sendo que na ocasião foram respeitados os direitos adquiridos vindos de antanho. Hoje, ignorando as conquistas sedimentadas no texto constitucional, querem alterar a carta magna por emendas que desfaçam situações jurídicas consagradas e retirem efeitos já produzidos sob o argumento de que não existe direito adquirido contra a Constituição. Ora, quem o diz não está autorizado a refazê-la nem pode reformá-la em seus princípios básicos e garantias fundamentais, a menos que esteja em curso um sub-reptício processo revolucionário. Não esqueçam de avisar o povo."
Fernando Luiz Gonçalves Rios Neto (Belo Horizonte, MG)

"A respeito da discussão sobre a estabilidade do funcionalismo, caberia dizer que se os funcionários públicos, incluindo os políticos, cumprissem razoavelmente com apenas a metade de suas atribuições, o funcionalismo público já não seria um problema."
Lauro Ney Batista (São José dos Campos, SP)

Revolta dos não-fumantes
"Acho que a Folha se vendeu barato ao publicar os anúncios que a Souza Cruz preparou a pretexto das leis antifumo. São peças publicitárias de um cinismo assustador, que afrontam os referenciais básicos da ciência e do bom senso, e cuja mensagem nunca encontraria espaço gratuito neste jornal. As multinacionais do cigarro estão contrariadas com a estagnação dos seus negócios nos países ricos e têm como objetivo central, nesta virada de século, aumentar o número de dependentes no Terceiro Mundo, onde a educação e a cidadania são quase desconhecidas. Não estou discutindo os métodos e as intenções do prefeito Paulo Maluf. Mas, obviamente, o que está em jogo não é a liberdade de ninguém. A indústria do fumo não se preocupa com a liberdade e sim com o faturamento, independente de quantas pessoas tenha de induzir ao suicídio para vender mais. Entretanto, já que a liberdade foi trazida à discussão, eu gostaria que a minha contribuição compulsória à Previdência tivesse um destino mais nobre do que o atendimento às vítimas do cigarro. Os fumantes e seus filhos são, como se sabe, candidatos preferenciais ao câncer, asma e outras doenças de tratamento caro, que oneram o sistema previdenciário público e privado. E todos nós, fumantes e não-fumantes, somos obrigados a pagar pela tolice de alguns."
Claudio Alves de Amorim (Salvador, BA)

"Enquanto por anos e anos os fumantes tinham total liberdade de nos encher a cara e os pulmões de fumaça sem pedirem licença, onde estava a liberdade dos não-fumantes?"
Sonia Freitas (Bauru, SP)

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