São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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A indústria e o meio ambiente

RUBENS ANTONIO BARBOSA

O presidente do Ibama, Raul Jungmann, encerrou há poucos dias visita ao Reino Unido durante a qual cumpriu intenso programa de contatos com o governo e instituições de pesquisa britânicos. Em todos os encontros pôde constatar que há grande interesse em estreitar vínculos e ampliar a cooperação com o Brasil. Nos centros de excelência em que esteve -o Jardim Botânico de Kew, o Museu de História Natural e o Instituto de Estudos Florestais de Oxford- deixou encaminhadas diversas iniciativas concretas.
Foi muito proveitoso também o diálogo aberto, franco e objetivo que manteve com várias ONGs do Reino Unido que se preocupam com questões sensíveis como a exploração do mogno brasileiro e as queimadas na Amazônia.
O presidente do Ibama trouxe uma mensagem clara sobre o empenho das autoridades brasileiras em desenvolver e implementar políticas ambientais com energia e criatividade. Esses dois critérios se complementam: a ação enérgica é necessária para consolidar a eficácia e a credibilidade do Estado como agente regulador; a criatividade é um requisito para superar as limitações financeiras, materiais e de pessoal que restringem essas ações.
Várias iniciativas recentes ilustrativas dessa filosofia -o Protocolo Verde, a terceirização de serviços, o Cartão Verde, o programa Ecocidadania, a Operação Pênalti-, amplamente divulgadas na imprensa brasileira, eram praticamente desconhecidas no Reino Unido antes da passagem de Jungmann e despertaram considerável interesse.
Tais visitas cumprem a função muito importante de mostrar aos nossos parceiros o que estamos fazendo para avançar na implementação de um modelo de desenvolvimento sustentável. Mas isso não é tudo. Talvez mais relevante seja a difusão de um maior conhecimento sobre as oportunidades de negócios que o Brasil oferece no campo ambiental.
Nenhum outro país possui tão claramente o que se poderia chamar de um destino ambiental. Nosso vasto patrimônio natural, mas também os sérios problemas de nossas áreas urbanas e industriais, situam de forma inexorável as questões ambientais no centro de nosso desenvolvimento, não apenas como um elenco de problemas para resolver, mas também como um campo de oportunidades a explorar. No plano internacional essa condição coloca-nos em grande evidência, como se verificou há pouco na iniciativa tomada pelo presidente FHC e o chanceler Kohl para relançar o espírito da Rio-92.
Entretanto, ainda temos um grande desafio para o setor privado: a captação de investimentos e tecnologias por meio de uma cooperação empresarial mais estreita com outros países. Nesse campo o destino ambiental do Brasil apenas começa a ser explorado.
Saindo da posição defensiva e mostrando sua preocupação com a preservação do meio ambiente e com o desenvolvimento sustentável o governo brasileiro abre um espaço que começa a ser entrevisto e em alguns casos explorado: as oportunidades de negócios e investimento para a indústria nacional e a cooperação na área externa.
Temos de continuar a introduzir cada vez mais no diálogo com nossos parceiros desenvolvidos os interesses e problemas das nossas indústrias e grandes cidades e, sobretudo, indicar as oportunidades para as empresas detentoras de tecnologias ambientais de ponta.
Como um dos resultados das conversações mantidas durante a visita de Jungmann, estaremos iniciando na Inglaterra, junto com órgãos do governo britânico, um levantamento das empresas brasileiras e britânicas nos setores atinentes ao meio ambiente.
O objetivo será identificar as áreas onde se pode iniciar ou intensificar a interação entre os empresariados de ambos os países para a transferência de tecnologia e a formação de joint ventures. Esse é um exemplo do muito que ainda se pode fazer para explorar a questão ambiental em nosso benefício.

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