São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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Feministas condenam agressão a Isabela

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

As agressões físicas contra a vilã de "A Próxima Vítima" estão provocando indignação entre as feministas.
No último dia 11, em Brasília, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher se reuniu para debater uma cena que a novela da Globo mostrou há três semanas.
Depois de flagrar Isabela (Claudia Ohana) transando com o amante sobre a mesa da cozinha, o marido traído, Marcelo (José Wilker), lança mão de uma faca e desfigura o rosto da jovem que diz amar.
"Os meios de comunicação têm o dever de lutar contra todo tipo de violência. 'A Próxima Vítima' fez o oposto. Estimulou um comportamento bastante arraigado na cultura brasileira: o de que o macho só limpa sua honra com sangue", argumenta Rosiska Darcy de Oliveira, presidente do conselho.
A entidade, ligada ao Ministério da Justiça, pedirá para a Globo uma cópia do capítulo em que Marcelo esfaqueia Isabela. "Vamos analisá-lo cuidadosamente antes de encaminhar um protesto formal à emissora", explica Rosiska.
Outros grupos feministas se solidarizam com o conselho. "A cena da agressão nos causou enorme mal-estar", afirma Terezinha de Oliveira Gonzaga, diretora da União de Mulheres, em São Paulo.
"A novela exibiu um ato de violência desmedido e absolutamente desnecessário. Marcelo tinha todo o direito de se irritar com Isabela. Poderia gritar, chorar, se separar da mulher, mas nunca machucá-la", reforça Denise Dourado Dora, coordenadora do Themis, em Porto Alegre.
Os dois grupos e o conselho não condenam apenas a cena da facada. Também desaprovam outras três situações que derivaram da briga:
1) Alguns personagens apoiaram a agressão de Marcelo. Justificaram o gesto do marido traído com ponderações do tipo: "Isabela não vale nada. Ela merecia."
2) A vilã sofreu uma punição exemplar porque é "sexualmente liberada", tem um comportamento que contraria as regras estabelecidas pela sociedade.
Quando Marcelo começa a discussão na cozinha, não está armado nem parece disposto a ferir Isabela. Só toma a decisão de apanhar uma faca depois que a mulher lhe diz: "Você envelheceu. Você não é mais homem para mim há muito tempo. E eu sou jovem. Não vou apagar meu fogo por causa de você."
3) Para castigar a mulher adúltera, o marido lhe marca o rosto. A atitude alimenta o preconceito de que o bem feminino mais precioso é a beleza -e não a inteligência, a honra ou a própria vida.

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