São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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Telesp investiga superfaturamento

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma auditoria interna da Telesp, iniciada em agosto, investiga denúncia de superfaturamento nos serviços de substituição de fios telefônicos nos bairros da Lapa, Morumbi, Pinheiros e Jaguaré, zona sul da cidade de São Paulo.
A denúncia partiu do chefe do setor financeiro do distrito da Telesp daquela região, Amâncio Fonseca e Silva.
O diretor de serviços de telecomunicações da estatal, Laércio Eggerath Barreto, disse que, desde o último dia 11, estão suspensos os pagamentos no distrito porque o mesmo funcionário apresentou uma fatura com falhas, que foram comprovadas.
Em entrevista à Folha, Amâncio Fonseca e Silva, 38, reafirmou sua denúncia. Ele sustenta que, nos últimos 17 meses, pelo menos R$ 2,7 milhões teriam sido gastos indevidamente na troca dos fios que ligam os postes a casas e pequenos prédios na região.
Fonseca e Silva diz que, de maio de 94 a setembro deste ano, a Telesp pagou R$ 3,15 milhões para substituir 210 mil instalações na área, sob alegação de desgastes ou oxidação dos fios.
Silva diz que os contratos se referem apenas à troca de fios em má condição de uso.DIz que existem cerca de 210 mil telefones instalados na área, dos quais 190 mil em casas ou pequenos edifícios, onde a ligação é por fiação aérea.
Segundo o funcionário, dessas 190 mil linhas telefônicas, 127 mil são fiações novas, que foram instaladas depois de maio de 94. Logo, não precisariam ser trocadas.
Restaram, diz, 83 mil assinantes, cujas fiações foram instaladas antes de maio de 94. Ele afirma, baseado na média histórica da Telesp, que só um terço desse total (30 mil instalações) deveria estar em má condição.
O funcionário conclui que pelo menos 180 mil fiações ou foram trocadas sem necessidade ou faturadas sem a execução do serviço.
Para ele, para substituir tal volume de ligações, a estatal teria de fornecer 10 milhões de metros de fios às empresas, mas que entregou apenas 3,7 milhões de metros.
Ele afirma que levou o fato ao conhecimento de seus superiores no fim do ano passado e que as denúncias não foram apuradas.
Como as ordens de pagamento continuaram chegando à sua mesa, em grande volume, ele diz que parou de assinar as liberações em julho último, mas que os pagamentos continuaram.
Segundo Fonseca e Silva, as empresas privadas que fazem a manutenção da rede cobram seus serviços por horas trabalhadas, e os preços variam de acordo com o serviço. Para cada substituição de fios, são pagas duas horas de serviço (R$ 10 a hora).
Em 1990, de acordo com o funcionário, a Telesp pagou 100 mil horas de serviço para a manutenção da rede no distrito OW4, estando aí incluídos os serviços de troca de dutos, cabos telefônicos e a substituição dos fios aéreos que ligam os postes às residências.
Em 91, foram pagas 111 mil horas para os três serviços; em 92, foram 117 mil; em 93, 124,5 mil horas.
Em 94, enquanto o número de telefones na área cresceu apenas 5% (210 mil), o volume de serviços faturados aumentou 224%, somando 429 mil horas. Só para a substituição de fios foram pagas 213 mil horas de serviços.
Fonseca e Silva diz que foram feitas concorrências para os próximos 12 meses, com quantidades de serviços (750 mil horas) também superestimadas: "Pela nossa média histórica, 370 mil horas seriam suficientes", afirma.

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