São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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Educação salvadora; Ética; Poderio econômico; Fundos de pensão; Ensino em debate; Teatro sem fundos

Educação salvadora
"Li com atenção o artigo 'Imoralidades', de Otavio Frias Filho (12/10). Deveria elogiá-lo? Até mesmo por ter sido nele citado. No entanto, não o faço. Em minha vida jamais tive a empáfia da erudição. Por isso, não pretendo enveredar por um tema que desde priscas eras tem sido motivo de altas indagações filosóficas e que relaciona o homem ao seu meio ambiente, destacando o seu comportamento moral e ético. A natureza humana, estudada por filósofos como Sócrates, Aristóteles, Platão, Bacon, Maquiavel, Hobbes, Marx e Durkheim, passa por um processo de anomia só reversível por força de uma catástrofe ou por imposição de programas contínuos de educação que, embora lentamente, poderão transformar a sociedade. Quando certa vez eu afirmei, baseado na realidade do dia-a-dia, que 'todos somos corruptos', sofri reações que conduziram a uma fiscalização da Receita Federal em minhas empresas. Nada encontraram, mas mesmo assim paguei alto preço em termos de desconforto, que atingiu até mesmo minha família. Tenho me esforçado para tornar compreensível a realidade de que a corrupção, no Brasil, decorre do estado de anomia que atravessamos, faz tempo. Nosso país parece ter formado uma cultura voltada para a sonegação, apoiada no célebre 'jeitinho' brasileiro e na impunidade, que nos dias atuais se arrimam na burocracia e no alto grau de regulamentação do Estado, responsáveis também pela corrupção. Para que as pessoas tenham um nível moral e educacional elevado e a sociedade uma ética respeitável é preciso que em todos os cidadãos se desenvolvam a consciência e o discernimento do ato praticado. Para isso há que haver um bom grau de educação, que permita a cada indivíduo reconhecer e aceitar o próprio erro. Se, no entanto, ele persistir no erro, estará, conscientemente ou não, facilitando o que se pode denominar de corrupção consentida. Quando, porém, o indivíduo não tem consciência nem aceita o próprio erro, sem saber ele se iguala a um antropófago, cuja presença é inadmissível no mundo moderno em que vivemos. Sei que para os homens de bem é possível perceber o quanto eu suportei com a má interpretação que, propositalmente ou não, deram àquela minha afirmação. Difícil, no entanto, é avaliar o grau de dessossego meu e de minha família. O pior é que alguns 'puritanos', que se diziam meus amigos e que muitas vezes me propuseram negócios que eu recusei por sabê-los escusos, correram a acusar-me publicamente. Revoltei-me até quase a agressão. Hoje vejo que a esses indivíduos faltava consciência do que é corrupção. Ou, então, eles a conheciam muito bem, talvez até a praticassem, e me acusaram com a intenção de se defenderem antecipadamente se alguém pretendesse apontá-los como corruptos. Estou plenamente convencido de que só pela boa formação educacional, com os conceitos de moral e ética, de respeito à natureza e aos semelhantes e de amor ao trabalho e ao país, será possível em futuro próximo termos povo apto a continuar gerindo os destinos desta nossa nação."
Mario Amato (São Paulo, SP)

Ética
"É muito bom saber que ainda existem profissionais interessados na saúde física e mental do ser humano ('Manicômio, asilo e hospital', Valentim Gentil Filho, 26/9, 'Tendências/Debates'). Esse cuidado se chama 'ética' e não há lei que a faça nascer. É um privilégio. E de poucos."
Tarcisa A. Marques Porto Uliano (São Paulo, SP)

"Em nome do conselho de saúde de Vila Mariana e adjacências, da União dos Moradores da Zona Sul e do conselho tripartite do hospital psiquiátrico de Vila Mariana venho congratular a Folha pelo artigo 'Manicômio, asilo e hospital' (26/9), de Valentim Gentil Filho. Bem diz o referido mestre que fechar hospitais psiquiátricos é fácil, abandonar os pacientes à própria sorte é um crime. Existem neste país problemas muito mais importantes para os senhores representantes do povo do que fechar hospitais."
Leonel Cogan (São Paulo, SP)

Poderio econômico
"Muito oportuno o debate estimulado pela Folha sobre as chamadas igrejas evangélicas, que lavam sua roupa entre si, mais a Igreja Católica. Estava mesmo na hora de a sociedade ter um pouco de transparência desses movimentos, cujo poder econômico e em vários outros sentidos parece ser a meta principal."
José Rodrigues (Santos, SP)

Fundos de pensão
"Costumam os jornais, e a Folha não é exceção, afirmar que todos os fundos de pensão patrocinados por empresas ditas estatais são beneficiários de recursos oriundos do Tesouro, inverdade que provoca ódio e revolta contra os funcionários daquelas empresas. As contribuições que o Banco do Brasil destina à Previ -que é uma entidade civil pertencente aos seus associados- são contabilizadas como despesas de pessoal custeadas, em sua totalidade, com parcela dos resultados obtidos através da prestação dos serviços bancários, quer dizer, dos lucros. Portanto, inexiste diferença entre a origem dos recursos alocados pelo Banco do Brasil em favor da Previ e os destinados por qualquer empresa privada em favor dos fundos de pensão que patrocinem. Em ambos os casos quem paga são os consumidores dos produtos ou serviços vendidos pelas patrocinadoras. Consequentemente, afirmar que a Previ recebe recursos originários do bolso dos contribuintes reflete ignorância da realidade, mesmo porque o governo federal detém o controle acionário do Banco do Brasil com pouco mais de 28% do capital social da empresa, o que equivale a 50,5%, aproximadamente, das ações ordinárias com direito a voto. Os outros quase 72% do capital estão distribuídos entre cerca de 600 mil acionistas privados."
Carlos Valentim Filho (Joinville, SC)

Ensino em debate
"A lei, ora a lei. Ao vencedor, as batatas! Assim dizia Machado de Assis e, quando a discussão em torno da LDB ganha os tons dos artigos de 19/10, Machado só se afirma. Se nossos governantes estão preocupados com a educação do povo, deveriam agir mais e falar menos. O direito à educação é um bem que deve ser reivindicado por cada brasileiro ou ficaremos como flintstones definitivamente."
Sérgio José Custódio, coordenador-geral do DCE da Universidade Estadual de Campinas (Campinas, SP)

Teatro sem fundos
"O ministro Jatene berrou pela saúde da Saúde, em dinheiro. O da Cultura, com o secretário de Estado, canta afinado com o coro dos cortes. O jornalismo chique, higiênico, de salão alto astral, trata do assunto gozando ou ignorando. Nós que seguramos o Teatro Oficina com a bilheteria de nossas produções estamos sem dinheiro para a manutenção do prédio porque o convênio para manutenção e produção assinado entre o governo do Estado e o teatro Oficina não foi cumprido até hoje pelo governo do Estado. Tenho telefonado para alguns amigos pedindo a cada um R$ 100 para cobrir parte dessas despesas. Zé Celso me trouxe R$ 1.100 que recebeu nos bastidores do programa 'Roda Viva' da Ruth Escobar. É pouco pra enfrentar a seriedade da situação, porém são afetuosos reais que fazem muita falta nessa seca que todo o teatro, todas as companhias têm enfrentado. O bom cabrito não berra! Mas eu berro aos bodes do teatro para que se manifestem e mandem berros faxados/telegrafados ao Palácio do Governo, atordoando os ouvidos do Mário Covas pra ele desenterrar o dinheiro do teatro."
Pascoal da Conceição (São Paulo, SP)

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