São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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Bomba-relógio

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - A esquecida reforma da Previdência pode gerar uma poupança de R$ 150 bilhões nos próximos cinco anos. Uma montanha de dinheiro maior que a dívida externa brasileira.
Essa é a nova arma que o ministro Reinhold Stephanes vai usar para apressar a votação da sua proposta no Congresso. Enviada ainda no primeiro semestre, ela ganhou tramitação de tartaruga. Deve ser apreciada no plenário somente no próximo ano.
E de onde viria esse dinheiro? Stephanes explica que o seu projeto estimula a criação dos fundos de pensão, aquelas entidades que garantem uma aposentadoria complementar ao trabalhador. Uma poupança que o cidadão faz para ter uma velhice mais tranquila.
Hoje, existem 334 fundos no país, reunindo uma poupança de R$ 56 bilhões. O ministro mostra dados do mercado indicando que, em cinco anos, o número de fundos saltaria para 650 e a poupança arrecadada por eles chegaria aos R$ 150 bilhões. Isso se a reforma for aprovada.
Para se ter uma idéia do poder dessas entidades é só lembrar que elas foram presença constante nas privatizações. Ou seja, os fundos podem funcionar como um estímulo ao crescimento do país, aumentando a riqueza nacional e, por tabela, combatendo o desemprego.
De olho nessas cifras, a equipe econômica acordou para a reforma previdenciária. Afinal, poupança livre para investimentos é o que os técnicos andam procurando. Sem eles a estabilização da economia não será consolidada e o brasileiro terá de conviver com o aperto no crédito.
Stephanes lembra que estimular a formação de poupança não é o único ponto importante do seu projeto. O modelo vigente de Previdência, segundo o ministro, pode entrar em colapso e explodir daqui a cinco anos. Evitar esse caos é outra meta.
Mantido o ritmo atual, em pouco tempo a Previdência terá mais aposentado do que contribuinte. Hoje, para financiar 15 milhões de aposentados existem 30 milhões de contribuintes -o número ideal seria de 60 milhões de pessoas contribuindo. Em alguns Estados, isoladamente, já existem mais inativos do que ativos.
Desativar essa bomba-relógio é um dever do Congresso Nacional. Além de evitar a explosão das contas da Previdência, os parlamentares podem dar uma mãozinha ao crescimento do país.

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