São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eventos

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - O Rio talvez não seja a cidade mais bonita do mundo como muitos, inclusive eu, julgamos e proclamamos. Mas é seguramente uma das mais espetaculares em termos de belezas naturais -compensando suas muitas mazelas e pecados. Contudo, até mesmo essas belezas naturais estão se corrompendo. Suas praias, por exemplo, estão se transformando em um picadeiro de péssimo gosto.
Compreende-se que elas sirvam para determinados eventos. O Coliseu, de Roma, as pirâmides, no Cairo, volta e meia se transformaram em palco de espetáculos de som e luzes, mas sempre em caráter excepcional, o que é próprio da categoria de um verdadeiro evento.
No Rio, patrocinados por autoridades locais e firmas comerciais, os eventos se sucedem de tal forma que as armações metálicas, autênticas porcarias de tubos e cartazes, ficaram permanentes. Em Copacabana e Ipanema há sempre um monstrengo armado, poluindo a paisagem e atestando o nosso subdesenvolvimento.
A construção do sambódromo teve o mérito de acabar com as marquises provisórias que enfeavam a cidade, tumultuavam o trânsito e ameaçavam a vida do respeitável público. Em crônica muito citada Machado de Assis, no século passado, profetizou que o mau gosto das autoridades ainda transformaria a baía de Guanabara em um circo de cavalinhos.
Ali no Posto 2 foi erguido um minimaracanã de palitos metálicos, sei lá para que evento. No Arpoador, de 15 em 15 dias uma traquitana horrenda é montada e desmontada. Alguém sai ganhando com esse arma-desarma; seguramente não é o cidadão desta cidade. Os espetáculos promovidos nessas favelas de tubos até que podem ser bons, mas não nos faltam lugares mais apropriados e seguros. E capazes de atrair os cariocas de todos os cantos, e não apenas da zona sul, a mais privilegiada em termos de lazer.
Em Nova York, Londres e Roma, para citar algumas, há locais permanentes para esses eventos. Um pouco de civilização não faria mal ao nosso alcaide. E ajudaria o Rio a continuar sendo, na minha suspeita opinião, a cidade mais bonita do mundo.

Texto Anterior: Bomba-relógio
Próximo Texto: A nova lei da educação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.